Área atingida por incêndio na Floresta Nacional do Araripe pode levar até 30 anos para ser recuperada no Cariri
Chamas atingiram cerca de 2 mil hectares, o equivalente a dois mil campos de futebol — Foto: PrevFogo/Divulgação |
Equipes do Corpo de Bombeiros, ICMBio, Ibama e voluntários atuaram para debelar as chamas. Fogo também impactou produção de pequi. O incêndio de grandes proporções que atingiu a Floresta Nacional do Araripe (Flona) foi controlado na última quarta-feira (1º), mas deixou uma área destruída que levará aproximadamente 30 anos para ser recuperada, segundo especialistas. As chamas atingiram cerca de 2 mil hectares, o equivalente a dois mil campos de futebol, na região da Chapada do Araripe, interior do Ceará.
A destruição impactou diretamente a produção de pequi, importante fruto colhido por famílias extrativistas da região para subsistência. Cerca de 80% da produção de pequi foi atingida.
"O impacto socioambiental foi grande já que estamos falando do sustento e da complementação de renda de muitos moradores”, lamenta a representante da Unidade de Conservação, Verônia Figueiredo.
Devido a dimensão do incêndio, equipes do Corpo de Bombeiros, Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e voluntários atuaram para debelar as chamas.
Equipes do Corpo de Bombeiros, ICMBio, Ibama e voluntários atuaram para debelar as chamas — Foto: PrevFogo/Divulgação |
Área de Preservação
A Floresta Nacional do Araripe é uma Unidade de Conservação (UC) brasileira, situada na Chapada do Araripe e administrada pelo ICMBio. A área corresponde a um importante reduto da Mata Atlântica brasileira e é fundamental para a manutenção de espécies nativas e garantia hídrica no semiárido cearense.
Embora os prejuízos ainda estejam sendo calculados pelo PrevFogo, estima-se que levará, pelo menos, 30 anos para a área ser recuperada. “Mesmo assim, a região nunca volta a ser o que era antes”, ressalta Verônica, representante da Flona. “Na questão da biodiversidade, nós perdemos muitas espécies de animais típicas da região e da flora local também”.
Além da importância na preservação ambiental, segundo o ICMBio existem aproximadamente 110 comunidades com atividade extrativista na região, impactando diretamente no modo de vida destes povos tradicionais. A maior parte das famílias estão localizadas nos municípios de Crato, Nova Olinda, Barbalha e Jardim.
Cerca de 80% da produção de pequi foi atingida pelo fogo — Foto: PrevFogo/Divulgação |
Incêndios de grandes proporções
O incêndio registrado na Floresta Nacional do Araripe começou no dia 22 de dezembro de 2019. Os primeiros focos foram registrados entre os municípios de Barbalha e Jardim, por populares que passavam pelo local quando perceberam a presença das chamas. Este é um dos maiores incêndios já registrados na região.
Em 2019, o Prevfogo, que atua prioritariamente em unidades de conservação federais, assentamentos rurais federais e territórios indígenas ou quilombolas, atendeu 20 ocorrências no Ceará. O número representa decréscimo em relação a 2018 (27), mas um aumento em termos de área atingida. Em 2018, foram cerca de 500 hectares, já em 2019, este número saltou para 1.300.
Outro incêndio de grandes proporções, no ano, foi registrado em 17 de outubro, na Serra de Santa Maria, em Quixeramobim - o fogo chegou a 514 hectares do território. Além dele, o distrito de Uruquê, também em Quixeramobim, sofreu um incêndio que impactou 245,95 hectares de área - ele ocorreu no dia 7 de setembro de 2019.
O PrevFogo esclarece que “o regime pluviométrico no segundo semestre do ano, que faz com que a vegetação da Caatinga fique mais seca e vulnerável à propagação do fogo, as queimadas irregulares e sem autorização e demais fatores físicos como baixa umidade relativa do ar e direção e velocidade dos ventos”, são fatores que explicam o aumento destas áreas.
*Sob supervisão de Valdir Almeida
Por Rodrigo Rodrigues*, G1 CE