Ex-catador de latinhas apresenta projeto na África
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O professor Ciswal Santos, que mora em Juazeiro do Norte, está levando energia elétrica para aldeia do Moçambique.
Professor Ciswal Santos foi nomeado embaixador de Direitos Humanos de uma entidade ligada à Organização das Nações Unidas (ONU). Autor de um projeto que fornece energia elétrica, água e internet de maneira sustentável, o professor Ciswal Santos, 31, está em Moçambique, no continente africano, apresentando seu trabalho para ser implementado em uma aldeia do país. Ex-catador de latinhas nas ruas de Juazeiro do Norte, sua trajetória ficou conhecida em todo país após ser aprovado para estudar na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, em 2018.
O convite surgiu ano passado, após o professor ser nomeado embaixador de Direitos Humanos da Noble Order for Human Excellence (NOHE), organização presente em 17 países, ligada a Organização das Nações Unidas (ONU). Outros países africanos como Zimbábue, Congo e Madagascar se interessaram pelo projeto.
Ciswal viajou para o Moçambique no último domingo (12). Lá, está hospedado na aldeia Muzumuia, na cidade de Matuba, na província de Gaza. Foram 52 horas de voo, sem saber onde ia dormir e comer. As dificuldades começaram no próprio aeroporto, quando ficou retido por quatro horas, já que trazia na mala um inversor de eletricidade, que será instalado numa escola. “Os policiais achavam que eram uma bomba”, conta.
Após explicar o equipamento, de onde era, o que fazia e onde estudava, o professor foi liberado. A acolhida foi feita pelas crianças, que deram as boas-vindas no dialeto changana. Hoje, Ciswal apresentou o projeto para o chefe da aldeia. “Ele ficou louco. Gostou muito. Mostrei funcionando e gerando eletricidade na sombra”, conta.
O equipamento será instalado numa escola que foi construída na aldeia. O inversor, que funciona com placas solares, vai permitir que haja iluminação no prédio, podendo servir como faculdade, cursos de culinária, reuniões, casamentos e festa. “Vai poder funcionar de dia e de noite”, garante o professor. Ele fica no continente africano até a próxima segunda-feira (20).
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Foi este trabalho que garantiu a Ciswal o reconhecimento em todo País após ser aprovado, em setembro de 2018, na Universidade de Harvard – uma das mais conceituadas no mundo. Seu projeto, que trará água, luz e internet, voltado para famílias do Semiárido nordestino, custava, aproximadamente, R$ 2 mil, mas a expectativa é diminuir para R$ 960. As placas solares serão responsáveis pela energia elétrica e ajudarão na captação de água, através de um poço artesiano. Já a internet, seria disponibilizada via satélite.
Trajetória
Nascido em Palmares (PE), Ciswal se mudou para Juazeiro do Norte na adolescência quando seu pai, também professor, foi transferido para Serra Talhada (PE). Com família devota do Padre Cícero, optaram por ficar na terra do sacerdote. Após a separação dos pais, as dificuldades apareceram. Sua mãe ganhava R$ 15 por faxina. O valor era pouco para o jovem se manter na escola e sustentar a casa e, por isso, resolveu trabalhar em um mercantil entregando as feiras de bicicleta.
Quando entrou na faculdade, antes de completar os 16 anos, o professor teve que buscar no lixo a solução para seu sonho de continuar estudando. Foi aí que Ciswal resolveu catar latinhas para reciclagem. O quilo do material custava R$ 2. Em uma semana, conseguia três quilos e meio. Era com isso que pagava xerox, apostila, livros e impressões.
“Eu tive dificuldade para estudar. O pessoal sabe disso. Eu superei e é através da educação que estou onde estou. Decidi que, enquanto vida tiver, enquanto Deus me der inteligência, duas pernas, dois braços e uma cabeça para pensar, eu vou resolver os problemas dessas pessoas. Não vou querer ganhar dinheiro com isso. Quero minhas ideias para ser canal de solidariedade, canal de oportunidade para estas pessoas”, reforça o professor.
Sua vontade inicial era ajudar as pessoas nordestinas, principalmente que vivem no Semiárido, mas Ciswal lamenta não ter sido implementado ainda no Brasil. “O meu projeto não gera dinheiro para ricos, favorece a população. Não é corrupto. Não é comercial, por isso não fui aceito. Aqui (na África) foi abraçado e recebi muitos convites”, finaliza. *Por Antonio Rodrigues/Diário do Nordeste