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Unidades de saúde do Cariri não suprem a alta demanda da Região

Unidades de saúde do Cariri não suprem a alta demanda da Região

Em Barbalha, 107 pessoas estão na fila aguardando procedimento no Hospital do Coração | Foto: Antonio Rodrigues


No Hospital do Coração, o número de atendimentos saltou de 17.799, em 2013, para 20.254, no ano passado. O crescimento impactou diretamente na fila de espera da unidade. O Hospital mantém 107 pacientes aguardando por um procedimento. O motorista Agailton Sampaio, 54, natural de Penaforte, é um dos que estão a esperar.

Ele sofreu um princípio de infarto no dia 2 de dezembro do ano passado, foi internado e passou por um cateterismo na própria unidade. Desde então, ele aguarda para realizar uma ponte de safena. Com mais de um mês na unidade, passou o Natal e Réveillon internado, longe da família e dos amigos. "É difícil, mas a gente tem que lutar pela vida, seja o que Deus quiser".

Há, inclusive, pacientes que estão há mais de dois meses na fila de espera. Cansados de aguardar e temendo uma piora médica, alguns optam pelo atendimento privado, enquanto outros acabam morrendo antes de ir à mesa de cirurgia. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) indica que o tempo ideal de internação deste tipo de paciente é de no máximo 5 dias. Porém, o Hospital do Coração tem uma média acima do dobro: 10,4 dias.

Problema financeiro

Segundo a direção do Hospital, o equipamento filantrópico sofre com a falta de reajuste da tabela do Sistema Único de Saúde (SUS) e, mesmo diante de medidas adotadas para corrigir a disparidade, como pagamento do teto anual e incentivos do Estado, elas não são suficientes para zerar a fila de espera.

Em 2018, um aporte de R$ 11 milhões foi destinado para Barbalha. Deste valor, apenas R$ 600 mil foi para o Hospital do Coração. "Isso dá em torno de R$ 50 mil por mês", lamenta o diretor de projetos Egberto Santos. Segundo estudos da própria unidade, seria necessário mais de R$ 700 mil por mês para atender à demanda. "A gente tem capacidade, temos equipamento, mas não atende. Tem pacientes (aqui) há dois meses, porque acontecem os casos de urgência. Aí ele fica gerando mais custo para o sistema, para o hospital, além do desconforto para o próprio paciente", diz Egberto.
Foto: Diário do Nordeste
Numa tentativa de reverter este cenário, o Hospital do Coração já pede, há alguns anos, que o teto financeiro do Município seja revisto, acompanhado dos incentivos da Secretaria da Saúde do Estado que alcança cerca de R$ 270 mil por mês. A medida foi até judicializada em 2017. "Se aumentar o teto e não tiver os incentivos, o hospital quebra", acredita Egberto. A reportagem entrou em contato com o Ministério da Saúde, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.

O secretário da Saúde do Estado do Ceará, Carlos Roberto Martins Sobrinho, o doutor Cabeto, explica que o Governo tem incentivado com R$ 14 milhões anuais as unidades filantrópicas do Cariri. "Talvez seja necessário ampliar alguns. É preciso, antes disso, organizarmos para abrir as portas para a população", reforçou. O gestor admite que há o que classifica como "subfinanciamento" da saúde. "É no Brasil inteiro. O Estado vem tentar trazer solução com uma metodologia onde compartilha as obrigações", acrescenta.

Crise

Em Juazeiro do Norte, a crise se estabeleceu a partir da greve dos médicos da UPA, na última quinta-feira (9). Eles interromperam parte dos atendimentos por conta do atraso de pagamento nos meses de novembro e dezembro. Apenas pacientes com classificação vermelha e amarela receberam assistência. Até o fim da tarde de ontem (10), a medida permanecia. O equipamento está passando por uma transição de gestão, e a Associação das Crianças Excepcionais Nova Iguaçu (Acemi) assumirá seu controle e do Hospital Maternidade São Lucas.

As portas fechadas impactaram a comunidade. Muitos buscaram atendimento, em vão. Assim foi com a dona de casa Lucinete Domingos que, com "fortes dores nas costas", saiu do bairro Campo Alegre e foi até a UPA, no bairro Limoeiro, tentar ser atendida. "Disseram que só iam atender se (eu) estivesse com pressão alta", queixou-se. A mulher desistiu de buscar atendimento e voltou para casa. "A gente toma remédio por conta própria e pronto. Torce para não morrer", resigna-se.

A Secretaria da Saúde de Juazeiro do Norte informou que o repasse ao Instituto Médico de Gestão Integrada (Imegi) - empresa que geriu a unidade por dois anos -, referente ao mês de novembro já foi feito. O valor pago foi de R$ 200 mil na quinta-feira (9) e outros R$ 46 mil, no dia seguinte. Quanto ao mês de dezembro, aguarda a análise da produção.

Falta de profissionais

A situação se agrava na terra do Padre Cícero porque 18 das 49 Unidades Básicas de Saúde (UBS) do Município estão sem médicos. A ausência dos profissionais se deu, sobretudo, a partir de março, após a instalação do ponto eletrônico para controlar os horários de entrada e saída.

Desde então, a Secretaria Municipal da Saúde tem adotado medidas para tentar suprir esta carência. Sete unidades passaram a fazer atendimento noturno aos moradores de qualquer bairro da cidade. Além disso, incluiu mais dois médicos de plantão para receber esta demanda no Hospital Estephânia Rocha Lima.

O secretário da Saúde de Juazeiro do Norte, Lucimilton Macedo, explica que os médicos que ocupavam estas vagas questionaram o valor do salário pago pelo Município. "Agora, estamos fazendo um planejamento para reajustar esses salários e conseguir atrair novos médicos", justifica. O salto será de R$ 5.400 para R$ 7.500. "É o valor que se paga na região. A gente vai fazer a mesma estratégia de municípios próximos", acrescenta. *Por Antonio Rodrigues/Diário do Nordeste

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