Hospitais do Ceará utilizam hidroxicloroquina com restrição em pacientes com Covid-19
Hospitais do Ceará utilizam hidroxicloroquina com restrição em pacientes com Covid-19 — Foto: Odair Leal/Secom |
Passageiros vão passar por inspeção sanitária para checar condições de saúde e evitar proliferação do coronavírus.
Médicos dos hospitais no Ceará começaram a usar medicamentos com as substâncias hidroxicloroquina e cloroquina em pacientes internados com o novo coronavírus. Com importantes ressalvas, há o alerta de muita cautela, tendo em vista que ainda não há total certeza de a substância tenha eficácia contra a Covid-19. A decisão de utilizar segue uma tendência mundial.
O médico infectologista e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) Anastácio Queiroz, que atua no Hospital São José, em Fortaleza, afirmou que os resultados iniciais têm sido positivos e esperançosos, mas é preciso que a população tenha cuidado.
"Qualquer medicação que tenha uma ação, é esperança. Mas é importante enfatizar que não existe um tratamento para todo mundo. Qualquer medicamento existe aquele grupo que não vai responder bem. E é preciso também utilizar esses medicamentos com certo cuidado, porque são medicamentos que têm efeitos colaterais”, explicou.
“O trabalho (sobre Hidroxicloroquina) foi publicado dia 16, e, de quinta-feira pra cá, é que essa questão do medicamento tem sido mais divulgada. Já tem pacientes sendo tratados, mas o paciente grave não melhora de uma hora pra outra, independente do tratamento que esteja sendo feito. Mas logo saberemos de muitos pacientes. Eu sei de pacientes que não estavam tão graves e melhoraram. Mas paciente muito grave, nós não temos ainda", ressaltou o médico.
Ele disse ainda que, dificilmente, a curto prazo, haverá uma outra medicação para agir de forma efetiva. "Essa vem sendo estudada há muito tempo, e realmente mostrou efetividade. Claro que não foram tantos pacientes, e quando se usa qualquer medicação em muita gente, vai ver efeitos negativos que antes não foram observados. Então, eu sou favorável ao uso, mas sou favorável que os pacientes em uso sejam bem avaliados do ponto de vista geral e, especialmente, do ponto de vista cardíaco."
O médico recomenda o uso do medicamento com cautela e lavando em conta os diferentes riscos aos quais podem ser expostos os pacientes. "O que recomendaria é que todo uso do medicamento, havendo indicação, avalie os pacientes para que, realmente, eles possam ter o benefício, e não só os riscos. Num momento de muita angústia, as pessoas vão querer realmente tratar a infecção. Acredito que muitos pacientes se enquadram na indicação do tratamento, mas tem que usar com muita prudência e uma avaliação prévia qualificada. Mas, de qualquer modo, é uma esperança".
Anvisa faz alerta nacional
Diante do cenário nacional em relação ao uso e à procura pela substância, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou que o uso da Hidroxicloroquina agora é controlado. A agência chegou a receber muitos relatos sobre o aumento na procura pela hidroxicloroquina, devido às pesquisas indicando resultados positivos no tratamento da Covid-19.
No entanto, a Agência Nacional mantém em seu site um alerta nacional. "Apesar de alguns resultados promissores, não há nenhuma conclusão sobre o benefício do medicamento no tratamento do novo coronavírus. Ou seja, não há recomendação da Anvisa, no momento, para a sua utilização em pacientes infectados ou mesmo como forma de prevenção à contaminação pelo novo coronavírus".
Já o Ministério da Saúde divulgou informação de que validou o medicamento e autorizou o seu uso, mas apenas para pacientes em estado grave, uma vez que ainda não há evidências consolidadas que sustentem a aplicação da substância de forma indiscriminada, mas somente nos casos em que não houver outra alternativa.
No último sábado (21), o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) divulgou a juízes de todo o país um estudo técnico, elaborado pelo hospital Sírio Libanês, apontando que "a eficácia e a segurança da hidroxicloroquina e da cloroquina em pacientes com COVID-19 é incerta e seu uso de rotina para esta situação não pode ser recomendado até que os resultados dos estudos em andamento possam avaliar seus efeitos de modo apropriado".
Farmácias de Fortaleza registram falta de medicamento
A falta do medicamento já é uma realidade em Fortaleza. em bairros como São Gerardo, Aldeota, Bairro de Fátima e Barra do Ceará diferentes redes de farmácia informaram à reportagem que já há mais remédio nas prateleiras. Atendentes dizem que a falta se deve à excessiva procura nos últimos dias.
Todavia, é preciso que haja responsabilidade na busca pelo remédio, pois preocupação é que pacientes com doenças como lúpus - doença autoimune -, malária e artrite reumatoide não podem deixar de fazer uso do medicamento.
Diante do problema, o Ministério Público Estadual (MPCE) recomendou a todas as farmácias de Fortaleza que só realizem a venda de fármacos à base de hidroxicloroquina e cloroquina mediante comprovação da necessidade com receita médica. O documento também orienta que as farmácias devem reter a receita apresentada. A orientação do MPCE reitera o pedido nacional feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) também na última sexta-feira.
Decreto de quarentena
Outra medida foi um decreto que estabelece quarentena no Ceará, com o fechamento de comércio e serviços não essenciais. Ficam impedidos de exercer as atividades, por um período de 10 dias, comércios e estabelecimentos dos seguintes seguimentos:
- bares, restaurantes, lanchonetes e estabelecimentos congêneres;
- templos, igrejas e demais instituições religiosas;
- museus, cinemas e outros equipamentos culturais, público e privado;
- academias, clubes, centros de ginástica e estabelecimentos similares;
- lojas ou estabelecimentos que pratiquem o comércio ou prestem serviços de natureza privada;
- “shopping center”, galeria/centro comercial e estabelecimentos congêneres, salvo quanto a supermercados, farmácias e locais que prestem
- serviços de saúde no interior dos referidos dos estabelecimentos;
- feiras e exposições;
- indústrias, excetuadas as dos ramos farmacêutico, alimentício, de bebidas, produtos hospitalares ou laboratoriais, obras públicas, alto forno, gás, energia, água, mineral, produtos de limpeza e higiene pessoal, bem como respectivos fornecedores e distribuidores.
Não são afetados pela medida:
- Estabelecimentos médicos e hospitalares;
- Laboratórios de análises clínicas, farmacêuticos, psicológicos;
- Clínicas de fisioterapia e vacinação;
- Distribuidores e revendedores de água e gás;
- Distribuidores de energia elétrica;
- Serviços de telecomunicação;
- Segurança privada;
- Postos de combustíveis;
- Funerárias;
- Padarias;
- Estabelecimentos bancários;
- Clínicas veterinárias,
- Lojas de produtos para animais;
- Lavanderias;
- Supermercados.
NAO USAR - Ciclo do coronavírus — Foto: Foto: Arte/G1 |
Por André Almeida e Tom Barros, G1 CE