Não deve haver paralisação de caminhoneiros na próxima terça-feira (7/4)
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Começaram a circular por grupos de mensagens, nesta semana, gravações de áudio com ameaças de paralisação geral de caminhoneiros na próxima terça-feira (7). Lideranças da categoria ouvidas pelo UOL negaram a possibilidade, e disseram que as falas são pontuais e dispersas.
Nos áudios, os caminhoneiros ameaçam parar de fazer entregas a supermercados a partir da semana que vem. "Avisa aos seus familiares, vai faltar coisa na sua prateleira", diz um homem em um dos áudios. A principal causa seriam as medidas de isolamento social aplicadas em quase todos os estados para conter o avanço do coronavírus.
"Só tem um jeito de consertar o coronavírus. Só nós, caminhoneiros, dar a voz, parar tudo. Entrar em quarentena todos os caminhoneiros do Brasil, sem exceção. Óleo, diesel, gás, tudo. Pronto, está resolvido o coronavírus no Brasil", diz uma pessoa em outra gravação.
'Precisamos abastecer o Brasil, mesmo correndo risco de vida'
Associações de caminhoneiros e lideranças autônomas de diferentes regiões negaram articulação para parar a categoria. Eles afirmaram que classe não se ausentaria em um momento como este.
Formalmente não existe nada nesse sentido. Estamos em pico de colheita de soja, com aumento de 8,7% na produção, um recorde. Diante de um cenário desse, pelo momento que passamos, é insano falar em paralisação.
Marlon Maues, assessor executivo da CNTA (Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos)
Eu não ouvi nada disso, e sou contra. Nós não podemos e nem queremos parar em uma situação dessas, de pandemia. Precisamos abastecer o Brasil, mesmo correndo risco de vida. Ninguém por aqui vai parar não.
Ailton Rodrigues, liderança da Baixada Santista (SP)
Áudios seriam de lideranças isoladas
Para os caminhoneiros ouvidos pela reportagem, a disseminação desses áudios é resultado de uma classe muito grande, com divergências políticas. Não há, no entanto, um consenso sobre paralisação. Áudios seriam, dizem eles, movimentos isolados.
[As gravações] têm aparecido em grupos de WhatsApp, mas de forma muito dispersa, não há qualquer movimentação. São pessoas que querem aparecer. Nós não endossamos e nem vemos esta possibilidade.
Bolívar Lopes, porta-voz da Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros)
"Essas ditas lideranças, na verdade, são lideranças de patotas, de microrregiões, que não representam a CNTA, que é a liderança oficial da classe no país", afirmou Maues.
Wanderlei Alves, o Dedéco, uma das lideranças da greve geral de 2018, também descartou qualquer possibilidade de paralisação. Ele disse ter ouvido os áudios, mas afirmou que não reconheceu a voz de nenhum dos envolvidos.
Não é uma questão nem pontual, são casos muito isolados, vândalos, que querem tirar vantagem política. São pessoas fazendo gracinha para pressionar governadores a baixarem os decretos [de quarentena] e voltar com o comércio. Sou totalmente contra.
Wanderlei Alves, o Dedéco, uma das lideranças da greve geral de 2018
Objetivo seria pressionar governadores
"Se não voltar a funcionar, vai parar tudo. Vai parar tudo de vez. Nem supermercado vai ter entrega, vai morrer todo mundo de fome", afirma um dos áudios. O suposto caminhoneiro faz críticas nominais aos governadores João Doria (PSDB-SP), Wilson Witzel (PSC-RJ) e Renato Casagrande (PSB-ES).
Pressionar pelo fim do isolamento, segundo as lideranças ouvidas pela reportagem, seria o motivo dos áudios.
O que está acontecendo não é perigo de greve, é motim de alguns falsos líderes que estão inventando uma paralisação para pressionar governadores, mas não vem da categoria.
Marconi França, liderança de Pernambuco
"Essas falsas notícias servem a muitos politicamente, bate com o discurso do presidente [Jair] Bolsonaro, contra o isolamento. Mas não vai haver, nossa categoria entende que não é hora de parar", afirmou o caminhoneiro.
Os líderes ouvidos disseram reconhecer que as políticas de quarentena têm gerado dificuldades para a classe, com muitos locais fechados, mas também dizem entender o momento.
Tem muito lugar fechado, estamos passando por algumas dificuldades, mas decreto é decreto, é melhor para o país. O Bolsonaro está incentivando isso, falando para reabrir [o comércio], mas está errado.
Dedéco, uma das lideranças da greve de 2018
Dedéco disse estar há mais de 24h sem comer "comida de verdade" por não achar locais abertos. "Mas tem loja de conveniência, a gente come umas bolachas."
Não é um momento fácil, mas, se a gente parar, vira caos, não vira? Só piora a situação. Não vai acontecer.
Lucas Borges Teixeira
Colaboração para o UOL, em São Paulo