Professora de Nova Olinda realiza oficinas de leitura com crianças durante pandemia
Criadora do projeto Biblioteca em Minha Casa (BEMC), Ana Paula reuniu 1.845 livros em sua casa. Durante a pandemia, o acervo é disponibilizado para crianças e jovens da zona rural em encontros virtuais
Acostumada a receber crianças todos os dias na biblioteca que montou em sua própria casa, na zona rural de Nova Olinda, a professora Ana Paula Lima teve que buscar uma alternativa para manter diálogo com os pequenos durante este período de isolamento social.
Fundadora do projeto Biblioteca em Minha Casa (BEMC), ela desenvolveu uma ação com oficinas virtuais de leitura, o “Fuxiquinho Literário”, estimulando o hábito de ler mesmo estando distantes.
Seu trabalho começou há oito anos, com a criação da biblioteca no distrito de Triunfo, que fica a cerca de cinco quilômetros da sede de Nova Olinda. Filha de agricultores, Paula desenvolveu o costume de ler na adolescência, quando comprou seus primeiros livros.
Porém, se sentia angustiada de não ter com quem dividir a história, comentar sobre a narrativa. Através das redes sociais, começou a disponibilizar seus títulos para amigos. Em oito dias, eram devolvidos. A partir daí, surgiu a ideia do BEMC.
A biblioteca criada pela docente já conta com 1.845 livros disponíveis para empréstimo gratuito |
Após empilhar livros no antigo quarto de seu irmão, convidou jovens para um projeto de uma roda de leitura, para incentivar a literatura nos jovens da comunidade. Com a divulgação e doações, a professora organizou em prateleiras os títulos. Hoje são 1.845 livros disponíveis para empréstimo gratuito.
Dentro deste trabalho, em janeiro deste ano, ela iniciou o “Fuxiquinho Literário”, que começou com um grupo de nove crianças. Uma vez por semana, cada um leva um livro para ler em casa e, toda sexta-feira a tarde, partilham as histórias de cada um.
“Tiram dúvidas, contam o que gostaram, se indicariam para outros amigos. As crianças estavam adorando", conta.
Com a chegada da pandemia e as medidas de isolamento social, a biblioteca fechou as portas temporariamente e suspendeu os alugueis de títulos. Com os participantes do projeto em casa, Paula começou a receber mensagens e ligações das crianças pedindo que o trabalho tivesse continuidade.
“Fiquei com coração apertado. Então sentei e tentei pensar em algo. Coloquei de lado meu receio de ficar no celular batendo papo e criei um grupo com as mães, que autorizaram conversar com eles por videocahamada”.
Por telefone celular, os encontros continuaram toda tarde de sexta-feira, a partir das 15h. A própria Paula trouxe suas indicações, como “Um apólogo”, de Machado de Assis. “Eu fiz a leitura de dois contos, porque eles já fazem as apresentações dos livros que leram em casa”, explica a professora.
Para Paula, neste momento de isolamento social, é importante estar mais próximos das crianças, já que elas não estão indo para a escola.
“Daí veio um impulso para continuar. São momentos difíceis, em que as crianças estão mais disponíveis para jogos on-line, assistindo vídeo, que percebi como é bom a leitura”, pontua.
Importância
Para Paula, neste momento de isolamento social, é importante estar mais próximos das crianças, já que elas não estão indo para a escola. “Essa é nossa missão enquanto professores. O que você, como professor, pode fazer para alimentar um pouco a esperança dessa criança? É importante dar atenção, tirar da rotina de fazer a mesma coisa todos os dias”, acredita.
“A leitura é prazerosa, ela vai melhorar a escrita, a fala, o comportamento. A leitura alimenta a alma num momento tão difícil que estamos vivendo”, completa.
Fonte: Diário do Nordeste