Agricultores rompem ilegalmente parede auxiliar do Açude Orós para obtenção de água
📸 Legenda: Os agricultores disseram que a abertura da parede é para "salvar culturas de capim, goiaba, banana e coco" - Foto: Wandenberg Belem |
A ação, considerada dano ao patrimônio público pela Cogerh, tem por
objetivo liberar água para o Açude Lima Campos até chegar às áreas de
produção agrícola
Um grupo de agricultores do Perímetro Irrigado Icó-Lima Campos, na região
Centro-Sul do Ceará, arrombou, nesta quinta-feira (11), parte da parede de
uma barragem auxiliar, no Açude Orós, o segundo maior reservatório do Ceará.
O objetivo é fazer com que a água reabasteça, por gravidade, o Açude Lima
Campos e em seguida possa irrigar áreas de produção agrícola.
Usando enxadas, chibancas e outras ferramentas, os irrigantes fizeram um
corte na parede liberando a água em direção ao túnel para reabastecimento do
Lima Campos. O presidente da Associação do Distrito de Irrigação Icó-Lima
Campos (Adicol), Francisco Canindé de Souza, disse que a abertura da parede
do reservatório é "para salvar culturas de capim, goiaba, banana e
coco".
“Os irrigantes estavam cansados de esperar por uma decisão da Cogerh (Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos), que não respondeu ao nosso pedido de transferência de água do Orós para o Lima Campos. Então apoiamos essa decisão de cortar a parede". justificou.
Produção Agrícola
Canindé lembra ainda, que nos últimos cinco anos, os irrigantes já tiveram
prejuízos elevados com a perda de culturas agrícolas por falta de água. “Era
preciso fazer alguma coisa, não tinha mais como esperar”, frisa. “A água
agora escorre por gravidade e vai salvar a produção agrícola”.
Os irrigantes, temendo ser chamados a depor pelo ato, não quiseram ser identificados. “Estamos sofrendo muitos prejuízos, faz muito tempo. O açude Lima Campos e o Orós estavam secos, sem condições de irrigação, mas agora têm água que dá para irrigar, então porque não soltar essa água”, desabafou um deles.
Perímetro
O Açude Orós está com 28% de sua capacidade e o Lima Campos acumula 17%, de
acordo com o Portal Hidrológico da Cogerh.
O Perímetro Irrigado Icó- Lima Campos é administrado pelo Departamento
Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs). Erivan Anastácio, do escritório
regional de Icó, considerou um erro a decisão dos agricultores. “Se tivesse
tido mais cautela teria sido melhor, uma saída negociada, pois é preciso
respeitar as decisões do comitê de bacia”, disse. “Acho que foi uma decisão
precipitada”.
As culturas frutíferas e plantio de capim para alimentação do gado ficam
nos núcleos produtivos do Posto Agrícola, Delta, Alfa e Gama, na margem
esquerda do Rio Salgado, no Perímetro Irrigado Icó – Lima Campos. Anastácio
lembra que há um decreto estadual que não permite irrigação sem uso de
tecnologia moderna. Nas antigas áreas de produção o sistema ainda é antigo,
pois depende de investimento do Dnocs.
Agricultores de Perímetro Irrigado arrombam parede auxiliar do açude Orós; veja vídeo https://t.co/djhBphTN0f pic.twitter.com/hrFE54HUS6
— Diário do Nordeste (@diarioonline) June 12, 2020
O órgão federal também informou que irá registrar um Boletim de Ocorrência
(BO) por dano material ao patrimônio público.
Cogerh
O diretor de Operações da Cogerh, Bruno Rebouças, classificou a ação dos
agricultores como "intempestiva, causando prejuízo ao patrimônio público".
Rebouças pontua que a água vai seguir por gravidade, mas só por pouco dias.
“Para restabelecer a transferência de água vai ser preciso ser fechada a
parede da barragem para evitar o retorno da água”, frisa. “Eles causaram
prejuízos a eles mesmos”.
A Cogerh ainda não decidiu se vai fazer o reparo na parede ou se vai deixar
a água escorrer até o nível de gravidade.
O chefe do escritório da Cogerh em Crato, que abrange a bacia do Salgado,
Alberto Medeiros, considera que o ato praticado pelos agricultores foi um
crime, por depredação do patrimônio público e que será feita denúncia na
Polícia Civil e no Ministério Público Estadual para as providências
cabíveis. Sobre a alegação da Adicol de que solicitou bombeamento da água do
Orós para o Lima Campos, Medeiros esclarece que:
“Essa operação só poderia ser tomada na reunião de alocação, em julho próximo, pois a Cogerh não trabalha de forma individual, e sim pela decisão coletiva”.
Escrito por Honório Barbosa/Diário do Nordeste