Consumo médio de água sobe 15% no Interior durante a pandemia
Legenda: Afazeres domésticos e maior quantidade de banhos fez disparar o consumo de água |
Apesar do crescimento na demanda de água, os sistemas de abastecimento
municipais, operados por Saae e Cagece, garantem o fornecimento até, pelo
menos, o próximo ano, devido aos bons aportes hídricos nos açudes do
Estado
consumo de água
A curva crescente de consumo de água no interior do Ceará, neste ano, foi
antecipada em três meses. Dois fatores podem justificar esse cenário: chuvas
mais escassas em maio somada à pandemia do novo coronavírus, que trouxe
aumento da demanda por água. O resultado desta equação é o incremento médio
de 15% no consumo de água no mês de maio nas 32 cidades cujo abastecimento é
gerido pelos Serviços Autônomos de Água e Esgoto (Saae). Em anos anteriores,
o índice era oposto, com queda média de 10% no consumo para os meses de
maio, junho e julho. A elevação da demanda iniciava apenas em
setembro.
O consumo médio dessas cidades é de 150 litros por habitante ao dia. No
último mês subiu para 172,5 litros/habitante. Após o período chuvoso começa
a subir e, entre setembro e dezembro, chega a 200 litros. Caso a média
crescente permaneça, esse índice será de 230 litros/habitante no último
trimestre do ano.
"Estamos diante de um período atípico por causa da pandemia do coronavírus, e o consumo já começou a aumentar", observa o diretor geral do Saae de Jaguaribe e representante da Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento (Assemae), Ronaldo Nunes. Já a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), que administra sistemas de abastecimento de 152 municípios, estima que o consumo aumentou 11,89% em abril de 2020 em comparação com igual período do ano passado. Os dados de maio estão sendo consolidados.
O número, no entanto, não atingiu maiores proporções devido as medidas de
isolamento. "As pessoas tomam mais banho, lavam mais louça e mais roupas,
mas empresas, repartições públicas e escolas estão fechadas, e acaba
ocorrendo uma compensação", observa Cortez.
Esses municípios assistidos pela Cagece têm consumo per capita diferenciado
conforme a região. Na Serra, com clima ameno, a média é de 75l/hab/dia. No
Sertão é de 150 litros", pontua o diretor de Operações para o Interior da
Cagece, Hélder Cortez. Já o aumento médio durante o período de setembro a
dezembro, nas cidades abastecidas pela Cagece, é de 20% em relação ao
primeiro semestre.
Apesar da demanda crescente, a maioria das cidades terá abastecimento
garantido. "Ainda bem que os açudes estratégicos como Orós, Castanhão,
Trussu e outros reservatórios receberam recarga neste ano, que é suficiente
para atender a demanda da população até a próxima quadra chuvosa em 2021",
pontuou Nunes.
No Ceará, só duas cidades ainda enfrentam dificuldades de abastecimento e
mantêm sistema de rodízio, ou seja, contingência na oferta de água:
Monsenhor Tabosa (Cagece) e Boa Viagem (Saae). Os açudes responsáveis pela
oferta de água desses dois núcleos urbanos permanecem secos.
Alerta
A necessidade de ofertar maior quantidade de água para os usuários impacta
diretamente os sistemas locais de abastecimento em decorrência do aumento de
energia, de aquisição de produtos químicos para tratamento.
Em Iguatu, a estimativa de aumento de consumo é 20%, superior à média geral
estimada (15%). "A família permanece toda em casa e acabamos tomando mais
banho, lavando mais roupas", contou a comerciária Marta Paulino.
Apesar disso, o diretor geral do Saae, Rafael Rufino, mostra serenidade.
"Estamos tranquilos, porque o Trussu neste ano saiu de 1,35% para 23,4% e
nos dá garantia de água para dois anos", disse. Entretanto, ele se mostra em
alerta com a inadimplência "que tende a crescer na pandemia".
"As despesas aumentaram e a inadimplência também, trazendo enormes dificuldades para os serviços autônomos", destaca Ronaldo Nunes. "A tendência é essa crise financeira continuar com o avanço da pandemia e o sistema se tornar deficitário, com quebra no caixa, pois, apesar de atraso no pagamento, não se pode cortar fornecimento de água".
A taxa média de inadimplência hoje é de 43%. "Se não fossem as reservas
hídricas, a situação seria grave", avalia Nunes, referindo ao custo reduzido
no fornecimento de água quanto os açudes possuem recarga.
Quando os reservatórios estão sem volume suficiente para abastecer os
centros urbanos, há necessidade de bombeamento em poços e adutoras e, por
consequência, os gastos se elevam.
Escrito por Honório Barbosa/Diário do Nordeste