Joice Hasselmann é acusada de produzir fake news contra bolsonaristas
Legenda: Ex-aliada bolsonarista, Joice Hasselmann rompeu com o Planalto depois de um 'racha' no PSL - Foto: José Cruz/Agência Brasil. |
Segundo dois ex-funcionários da deputada federal, Bolsonaro, Bia Kicis e
Carma Zambelli estavam entre os alvos dos ataques
Dois ex-funcionários da deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) acusam a
parlamentar de usar sua equipe de gabinete para criar e disseminar notícias
falsas e ataques contra adversários políticos.
Os principais alvos, segundo a dupla, seriam desafetos criados após a
ruptura da ex-líder do governo com o presidente Jair Bolsonaro e incluiriam
as colegas de parlamento, Bia Kicis (PSL-DF) e Carla Zambelli (PSL-SP), além
dos filhos do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o
deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Em entrevista à CNN Brasil, sem revelar sua identidade, os dois afirmaram
que funcionários eram cobrados a fazer 'montagens de vídeos', 'criar
narrativas' e 'alimentar perfis falsos' nas redes sociais, supostamente
monitorados pela própria parlamentar.
A reportagem mostrou ainda trocas de mensagens atribuídas à deputada, nas
quais ela pede que uma assessora 'coloque todos os perfis para trabalhar no
Twitter fazendo comentários positivos' sobre sua pré-candidatura à
prefeitura de São Paulo. Na conversa ela ainda teria repreendido a
funcionária por ter criado 'apenas' um perfil falso, e emenda: 'falei para
você fazer vários'.
A assessora relata dificuldade em criar os perfis devido à exigência de
vinculação das contas a números de telefone. Em conversa com outro
funcionário, sugere o uso de CPFs falsos para cadastrar os chips de celular
e criar contas ilícitas nas redes sociais.
Em outros áudios, Joice Hasselmann pede que a assessora crie uma hashtag
contra Bia Kicis e um vídeo afirmando que Carla Zambelli confirmaria ataques
do governo contra o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio
Moro.
Zambelli afirma que a fala usada no vídeo foi 'tirada de contexto'. Segundo
ela, o trecho foi cortado de um áudio enviado ao porta-voz do movimento Nas
Ruas, Tomé Abduch, e se referia à votação do Plano Mansuetto, no dia 2 de
maio no Senado.
Aliados do presidente, os deputados Bia Kicis e Carlos Jordy (PSL-RJ) já
articulam para levar o caso à Comissão de Ética da Câmara.
'Chumbo trocado'
Ex-aliada bolsonarista, Joice Hasselmann rompeu com o Planalto depois de um
'racha' no PSL que terminou com a debandada dos Bolsonaro do partido. Ela
chegou a disputar a liderança da sigla na Câmara, enquanto o presidente
articulava para que o caçula, Eduardo Bolsonaro, assumisse o posto.
A própria deputada acusa o Planalto e seus aliados de envolvimento em
esquemas de disseminação de notícias falsas e discursos de ódio. Em dezembro
do ano passado, na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake
News da Câmara dos Deputados, ela chegou a afirmar que um dos grupos de
propagadores de notícias falsas e difamações mais ativos seria o chamado
'gabinete do ódio', integrado por assessores especiais da Presidência da
República. O grupo seria pautado, segundo ela, pelos filhos mais novos do
presidente, Eduardo e Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), e pelo 'guru'
Olavo de Carvalho.
Na semana passada, após apoiadores bolsonaristas terem computadores,
documentos e celulares apreendidos como provas no inquérito nas fake news,
Joice voltou a atacar o governo. A deputada afirmou, nesta quarta-feira, 27,
que 'no fim da linha do esquema' investigado pelo Supremo Tribunal Federal
(STF) está o Palácio do Planalto. Segundo ela, 'o esquema de produção de
ataques e mentiras contra adversários políticos e a democracia' envolve
dinheiro público de gabinetes de políticos ligados à família Bolsonaro e
recursos de empresários com trânsito constante no Palácio do Planalto.
Com a palavra, Joice Hasselmann
Nas redes sociais, a deputada classificou a reportagem como
'irresponsável', 'patética e mentirosa'. Ela disse ainda que os áudios foram
'forjados' e que demitiu dois assessores 'infiltrados' por governistas para
roubar dados. "Os dois funcionários começaram a apresentar padrão de vida
não condizente com o que ganhavam no meu gabinete e aquilo me chamou a
atenção. Cheiro de corrupção. Cheguei a levar dados à época à PF e ao
Ministério da Justiça para sobre minhas suspeitas", escreveu em sua conta no
Twitter. "Enquanto as suspeitas são investigadas tomei a decisão de demitir,
porque peguei os assessores usando computadores do gabinete para espionar e
fraudar informações", acrescentou.
Escrito por Estadão Conteudo/Diário do Nordeste