Obras no Ceará garantem bom fluxo das águas do Velho Chico
📸 Legenda: De Milagres, última cidade de Pernambuco a receber a transposição antes do Ceará, a água segue para Jati - Foto: ANTONIO RODRIGUES |
A chegada das águas do Projeto de Integração do Rio São Francisco favorece
o Castanhão, maior açude do Estado. Com o aporte, 60 cidades cearenses serão
beneficiadas pelos recursos hídricos da transposição
Após 13 anos de uma longa espera - e pelos menos sete prorrogações para o
prazo de conclusão - as águas do Projeto de Integração do rio São Francisco
(Pisf) finalmente chegarão ao Ceará. A expectativa é de que a operação
ocorra até o último fim de semana de junho. Mas, porque essa obra,
considerada a maior intervenção hídrica do País, é tão importante? O
especialista em recursos hídricos, Hipérydes Macedo, destaca que o projeto
vai gerar segurança no abastecimento do principal reservatório do Estado, o
Castanhão.
Para obra de tamanha magnitude, portanto, foi preciso realizar outras ações
estruturantes no Ceará. Hipérydes acredita que o Estado está pronto para
receber as águas transpostas, mas aponta algumas ressalvas, como a perda da
água durante o trajeto de quase 300 Km entre a barragem de Jati, no Sul do
Estado, e o açude Castanhão.
"A perda de água no trajeto é uma incógnita, pois vai enfrentar solos
sedimentares, perda por infiltração, evaporação e terá de encher as
barragens vertedouras em Aurora e Lavras da Mangabeira", reforça o titular
da Secretaria de Recursos Hídricos, Francisco Teixeira, ao corroborar a
análise de Hipérydes.
Percurso
A partir do reservatório Jati, na cidade de mesmo nome, no Cariri cearense,
a água vai seguir no Cinturão das Águas do Ceará (CAC) por uma extensão de
53 Km por meio de canais, túneis e sifões até o riacho Seco, em Missão
Velha. Esse é o chamado trecho emergencial do CAC. A obra estruturante foi
importante para viabilizar a transposição da água até o Castanhão.
Depois, segue até o rio Salgado, no município de Icó, onde vai desaguar no
Rio Jaguaribe indo até o Castanhão. Todo o percurso será de 300 Km, sendo
250 Km em leito natural. Para otimizar a chegada da água, a Companhia de
Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) vai realizar serviços de desobstrução
e fiscalizar o trecho. "Estimamos dois meses para a água chegar ao
Castanhão, após atingir a cota de liberação para o CAC", pontua
Teixeira.
O CAC foi dividido em cinco lotes. O trecho emergencial que inclui os lotes
1,2 e 5 está pronto para receber as águas da transposição. "Faltam apenas
obras complementares, serviços de drenagem", frisou o diretor de Águas
Superficiais da Superintendência de Obras Hidráulicas (Sohidra), Antônio
Madeiro de Lucena.
Os lotes terceiro e quarto não se relacionam com essa primeira etapa
emergencial, uma vez que seguem em direção aos municípios de Crato e de Nova
Olinda, onde levarão água até o rio Cariús.
Beneficiamento
Com a chegada da água no açude Castanhão, o Estado poderá sanar uma lacuna
histórica no abastecimento de diversos municípios. Em tempos de estiagem,
como vivenciado entre os anos de 2012 a 2018, o reservatório apresenta
limitação para abastecer cidades importantes, como as da Região
Metropolitana de Fortaleza. "Vamos usar a água do São Francisco para atender
60 municípios", observa Teixeira.
Hipérydes Macedo explica que em um primeiro momento a concessão de outorga
por parte da Agência Nacional de Água (ANA) irá priorizar o abastecimento
urbano, mas com a chegada da água do São Francisco poderá haver sobra do
recurso hídrico captado no Ceará em tempos chuvosos. "Este fato, por si só,
libera as reservas locais para os outros usos, como a agropecuária".
Diante da estruturação das obras executadas no Estado, Hipérydes Macedo se
mostra otimista com o cenário vindouro. "Transposição funcionou em todas as
regiões do mundo, e aqui não seria diferente", finaliza.
Escrito por Honório Barbosa/Diário do Nordeste