Celebração virtual marca 86 anos da morte de Padre Cícero, fundador de Juazeiro do Norte
Legenda: Devido a pandemia do novo coronavírus, as celebrações foram virtuais e não houve aglomeração de devotos - Foto: Elizangela Santos |
Maior líder religioso do Nordeste, o sacerdote morreu aos 90 anos, em 1934,
após uma crise intestinal
Todo dia 20 de cada mês, Juazeiro do Norte veste preto, de luto, para
lembrar a morte do Padre Cícero Romão Batista. Esta celebração se
intensifica em julho, mês que data o dia exato da “viagem” do sacerdote, já
que o romeiro acredita que ele não morreu. Hoje, completam 86 anos da
partida do “padrinho” de milhares de fiéis Nordeste afora. Diferente de
outros anos, por causa da pandemia da covid-19, a romaria acontece
virtualmente.
Para o bispo Dom Gilberto Pastana, líder da Diocese de Crato, hoje é um dia
de recordar as virtudes humanas e espirituais do Padre Cícero que classifica
como um homem “profundamente acolhedor, principalmente dos pobres, dos
pequenos, dos injustiçados”, definiu.
“Não podemos esquecer esse testemunho, essa sensibilidade, essa presença afetiva e efetiva do Padre Cícero nos seus contemporâneos”, completa
A morte
No dia 18 de julho de 1934, o médico Belém de Figueiredo prestou os
primeiros cuidados ao Padre Cícero, acometido de uma crise intestinal, em
sua casa, na Rua São José, no Centro de Juazeiro do Norte. No dia seguinte,
o quadro de saúde do pároco piorou, sendo diagnosticado obstrução
intestinal, agravada por insuficiência cardiorrenal. Na sexta-feira, dia 20,
o Município acorda com a notícia que sacerdote, fundador da cidade, não
resistiu e morreu aos 90 anos no leito de sua residência.
As primeiras informações sobre sua morte chegaram nas ruas de Juazeiro.
Imediatamente, dezenas de pessoas correram até sua casa para verificar se
era verdade. Para não ter dúvidas, o caixão com o sacerdote foi colocado na
vertical, na janela, para que os moradores e romeiros pudessem ver. A
descrença na morte era tão grande, que, com a lei da gravidade o corpo do
Padre Cícero se mexeu e alguns, incrédulos, pensaram que ele estaria
voltando à vida.
Contrariando a expectativa de muitos intelectuais e parte da grande
imprensa nacional, a morte do santo popular não interrompeu o crescimento de
Juazeiro do Norte. Pelo contrário, a cidade, que já era alvo de romaria
desde o chamado “Milagre da Hóstia”, em 1889, quando a hóstia supostamente
se transformou em sangue na boca da beata Maria de Araújo, continuou
recebendo fiéis, mas, dessa vez, para visitar o túmulo do sacerdote. Em
novembro de 1934, ano de sua morte, já houve uma grande peregrinação no dia
de Finados – que depois se tornaria a maior romaria de Juazeiro do
Norte.
Romaria virtual
Neste ano, nem mesmo o túmulo do "padrinho" será aberto para visitação.
Após 86 anos, pela primeira vez, a romaria de morte do Padre Cícero está
acontecendo, desde a última sexta-feira (17), em formato virtual, com
programação transmitida pelas redes sociais redes sociais da Basílica
Santuário de Nossa Senhora das Dores.
“Estamos sentindo essa saudade dos romeiros e das romeiras. Essa saudade para abraça-los, acolhe-los, sentir um calor solidário. Esses momentos são difíceis, mas graças a Deus temos essa possibilidade de, virtualmente, sentir esse calor, essa amizade, estamos unidos”, comemora o bispo dom Gilberto Pastana.
O líder da Diocese de Crato acredita que, quando a pandemia passar, as
romarias serão ainda maiores. “Essa praça (dos Romeiros) não caberá a
quantidade de romeiros e romeiras. Aguardamos ansiosamente para que isso
logo aconteça”, torce dom Gilberto.
Escrito por Antonio Rodrigues/Diário do Nordeste