Ministério Público investiga compra de refeições para presos no Ceará
Contratos para distribuição de refeições são alvos de investigação. — Foto: Reprodução |
Um inquérito apura supostos atos de improbidade em contratos entre a
Secretaria da Administração Penitenciária e duas empresas.
O Ministério Público do Ceará (MPCE) instaurou um inquérito civil para
apurar supostos atos de improbidade em acordos firmados entre a Secretaria
da Administração Penitenciária (SAP) e duas empresas, na compra de
refeições.
O promotor de Justiça Francisco Diassis Alves Leitão, da 21ª Promotoria de
Justiça de Fortaleza, determinou o início da investigação, no último dia
8.
O representante do MPCE oficiou a SAP e pediu cópia: das nomeações e
exonerações da alta cúpula da pasta, desde 2013; e dos processos que
resultaram nas contratações das empresas e dos pagamentos. A Secretaria da
Administração Penitenciária informou, em nota, que contribui com todas as
demandas provenientes do Ministério Público e está à disposição para
esclarecer os fatos.
Segundo dados do Portal da Transparência do Ceará, a empresa I.S.M. Gomes
de Mattos Eireli já fechou 14 contratos com a SAP – antiga Secretaria da
Justiça e Cidadania (Sejus) – desde 2008, com um valor total de R$ 597,6
milhões.
Enquanto a CWM Indústria Alimentícia Ltda (antiga CWM Coelho de Alencar ME)
firmou nove acordos com a pasta, desde 2010, que totalizam R$ 122,6 milhões.
Juntas, as duas empresas possuem oito dos contratos em vigência com a
SAP.
Suspeitas de irregularidades
Contra a I.S.M. Gomes de Mattos, o MPCE analisa a denúncia de que um
contrato, assinado em 23 de dezembro de 2019, com o valor de R$ 28,5
milhões, previa o fornecimento de quatro alimentações para 13.351 detentos
de oito presídios, mas a população carcerária era bem inferior.
De acordo com boletins oficiais da SAP, os presídios reuniam juntos, em
janeiro deste ano, 9.218 presos; e em maio último, 8.317 detentos. E dois
dos presídios que receberiam a alimentação não chegaram sequer a ser
inaugurados.
O secretário da Administração Penitenciária, Mauro Albuquerque, explicou, em entrevista, que “quando se faz uma licitação, tem que ter uma previsão. É dinâmico o sistema penitenciário. Hoje, eu posso ter mil presos, e amanhã, 2 mil presos. A gente tem uma previsão de 37,5% [de internos a mais]”.
Ele acrescentou que o contrato já foi encerrado e que cerca de R$ 13,6
milhões não foram pagos e estão como saldo.
O Ministério Público também apura as suspeitas de que, em gestões
anteriores da Secretaria, a mesma empresa recebeu verbas públicas para
fornecer alimentação para dois presídios cearenses, por dois contratos
simultâneos; e que o Estado pagou para a empresa entregar comida em cadeias
públicas desativadas.
Proprietária da empresa, Idalina Sampaio Muniz Gomes de Mattos nega as
irregularidades. Ela corrobora com o que disse o secretário Mauro
Albuquerque e justifica, sobre a suposta duplicidade de contratos, que um
contrato ia até o fim de 2013 e apenas em 2014 foi paga uma dívida deixada
no curso do mesmo, enquanto o outro, apesar de ter sido assinado em 2013,
começou a valer apenas no início de 2014.
Acerca da suspeita de que recebeu para entregar refeições em cadeias
desativadas, ela garante que, por causa disso, o contrato teve uma redução
de 48% no valor.
Já a CWM Indústria Alimentícia ganhou, neste ano, uma licitação para
fornecer alimentação para os detentos das cadeias públicas do Crato e de
Juazeiro do Norte, ambas na Região do Cariri. O empresário César Wagner
Madeira Coelho de Alencar também nega qualquer ilegalidade nos contratos: "a
gente participa de pregões eletrônicos, muitas das vezes não somos o
primeiro colocado. Mas nós logramos êxito porque somos uma empresa
especializada em alimentação".
Fonte: G1 CE