Museu de Santana do Cariri abrigará seu primeiro fóssil de dinossauro
Foto: Reprodução/Antônio Rodrigues/DN |
A entrega da peça do Aratasaurus museunacionali pelo Museu Nacional
demonstra que o equipamento instalado no Sul cearense conta com estrutura
para preservar materiais científicos importantes para a história do
planeta
Criado em 1985 pelo então prefeito Plácido Cidade Nuvens, ex-reitor da
Universidade Regional do Cariri (URCA), falecido em 2016, o Museu de
Paleontologia de Santana do Cariri se tornou uma das maiores coleções do
período Cretáceo das Américas. São mais de 10 mil fósseis de vários grupos:
troncos petrificados, impressões de samambaias, pinheiros e plantas com
frutos; moluscos, artrópodes, peixes, anfíbios e répteis. Porém, só agora
receberá seu primeiro fóssil de dinossauro - e o mais antigo da Bacia do
Araripe -, o Aratasaurus museunacionali, que foi apresentado ontem por
pesquisadores.
"No campo da paleontologia este é, sem dúvida, a mais importante descoberta do Museu Nacional após o incêndio em 2018", definiu o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, que também participou da descoberta do Aratasaurus museunacionali, ao lado de paleontólogos da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE) e Universidade Regional do Cariri (Urca). Apesar de guardar este material desde 2016, o fóssil será trazido do Rio de Janeiro. "O Museu Plácido Cidade Nuvens, em Santana do Cariri, reúne as condições cuidá-lo", garantiu Kellner.
A guarda deste fóssil demonstra a evolução que o Museu teve ao longo dos
anos, se tornando um importante espaço de preservação, educação e produção
científica do Nordeste. Ano passado, foi visitado por 27.156 pessoas. "Temos
uma boa reserva técnica, especialistas nas mais diversas áreas, uma produção
científica razoável. Publicamos nas principais revistas científicas do
mundo. Não somos mais uma coisa pequena, primária", enfatiza o paleontólogo
Álamo Feitosa, da Urca.
O museu surgiu para tentar "parar a sangria", como Plácido definia a saída
clandestina de fósseis da Bacia do Araripe. Em uma pequena casa, com apoio
de pesquisadores cariocas e pernambucanos, entregou o museu para a Urca em
1988. De lá para cá, passou por três ampliações em 1997, 2001 e 2009.
A partir de 2005, a Urca qualificou seus profissionais, em mestrado e
doutorado, e desde este período criou um núcleo de pesquisa, escavações
paleontológicas e divulgação deste trabalho. São cinco pesquisadores
vinculados ao Museu de Paleontologia e mais de 30 colaboradores entre
técnicos, setor administrativo, segurança, limpeza e os guias. O prédio
também conta com uma biblioteca temática com mais de 5 mil títulos e
laboratório moderno de preparação e descrição das peças.
Seu atual diretor, o professor Allysson Pinheiro, reforça que além de ter
condições de abrigar materiais importantes com segurança, lá, podem ser
abrigados pesquisadores de qualquer parte do país e do mundo. "A gente passa
por um bom momento em pessoal. Antes, chegou a ficar apenas o Álamo como
curador e diretor. Hoje tem várias pessoas capazes, inclusive formadas no
Cariri", explica. Além disso, a instituição conta com três técnicos, um
deles dedicado apenas a preparação de fósseis, enquanto os outros dois são
responsáveis pela formação e paleoarte.
Neste cenário mais favorável, será entregue o fóssil do Aratasaurus
museunacionali, que não deve ficar exposto por questão de segurança, mas
será exibido em caráter especial para a população de Santana do Cariri, onde
foi extraído. "Mas estará disponível para pesquisas", reforça Allyson. A
ideia é que uma réplica em tamanho natural com a reconstituição da espécie
seja exibida.
Tráfico
Com a estrutura atual, o Museu se tornou o principal aliado de
pesquisadores locais para manter os fósseis, que costumam ser traficados
para fora do país, dentro da região do Cariri. Hoje, a URCA trava uma
batalha judicial com a Universidade de São Paulo (USP) para trazer quase 2
mil peças de origem da Bacia do Araripe, que foram apreendidos, em 2014,
pela Polícia Federal. Entre o material está um esqueleto completo de
pterossauro.
Álamo Feitosa rechaça a ideia que o Cariri não tem condições de preservar
este material e, pelo contrário, reforça a importância cultural e econômica
dos fósseis para a região. "Estamos fazendo paleontologia como em qualquer
centro do Brasil. Somos referência para o Nordeste. Recebemos estagiários de
universidades do Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Mato Grosso.
Contamos com apoio de pesquisadores da China e Portugal", enumera.
Escrito por Antonio Rodrigues/Diário do Nordeste