Vacinas da covid-19 para serem testadas no Brasil devem chegar neste sábado
Dimas Covas, diretor do Instituto Butantã, afirma que imunizante pode estar disponível até o começo de 2021 se os estudos forem bem sucedidos |
O diretor do Instituto Butantã, Dimas Covas, afirmou na noite desta
sexta-feira, 17, que as vacinas da covid-19 produzidas pelo laboratório
chinês Sinovac Biotech devem chegar ao Brasil neste sábado, 18. Os
imunizantes serão usados na fase 3 de um estudo que avalia, entre outros
aspectos, a segurança e eficácia do produto em pessoas infectadas pelo novo
coronavírus. Os testes, que devem começar no próximo dia 20, serão
realizados nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná,
Rio Grande do Sul mais o Distrito Federal.
"Estamos tentando acompanhar o voo. O voo saiu da China e deve estar na
Alemanha nesse momento, estamos esperançosos de que ele prossiga, não tenha
nenhum problema no aeroporto de Frankfurt e possa chegar amanhã (sábado, 18)
no Brasil", disse ele em entrevista à GloboNews. Covas afirmou que, de
qualquer maneira, o estudo de fase 3 começa na segunda-feira, 20, conforme
já havia sido anunciado em 6 de julho. O Estadão procurou o Instituto
Butantã nesta sexta-feira para confirmar a chegada dos imunizantes e a data
de início dos testes, mas não recebeu resposta até a hora desta
publicação.
Covas comentou que o instituto espera incluir no estudo, nos próximos 40
dias, a maioria dos 9 mil voluntários que se candidataram em todo o País. A
pesquisa conta com 12 centros de avaliação distribuídos pelos cinco Estados
mais o DF. "Essa vacina é uma grande esperança e, na nossa perspectiva, o
Brasil está à frente dessa corrida, podemos ter essa vacina já para o começo
do ano que vem", estimou.
Ele disse esperar que até outubro esteja finalizada essa parte dos testes
para, em seguida, partir para as próximas fases, que seriam o registro da
vacina e a distribuição dela pelo Brasil caso o produto tenha bons
resultados. A vacina chinesa Coronavac teve o início da testagem liberado no
último dia 3 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Para
verificar a eficiência, parte dos voluntários receberá um
placebo.
Uso da cloroquina
Questionado sobre a discussão para uso da cloroquina ou hidroxicloroquina
contra a covid-19, Dimas Covas afirmou que "não faz sentido" falar sobre
isso, uma vez que estudos já mostraram que o medicamento não tem eficácia
para a doença. "Estamos vivendo tempos muito difíceis na ciência em relação
ao nosso governo federal. Os trabalhos que têm aparecido mostram que esses
medicamentos não são efetivos, não têm ação no sentido de reverter o curso
natural da doença. Temos de focar na ciência, na questão da vacina",
justificou.
Para o diretor do Instituto Butantã, o Brasil pode ser um dos primeiros
países do mundo a ter uma vacina contra a covid-19. Ele destacou os esforços
da entidade e do governo do Estado de São Paulo, com menção ao governador
João Doria, para esse feito. "Estamos discutindo no nível federal o uso de
cloroquina e isso não tem sentido, estamos perdendo muito tempo em combater
essa epidemia, em agir de forma coordenada. O Estado de São Paulo está
mostrando os caminhos, não podemos dispensar nossas forças, gastar a nossa
energia em coisas que, comprovadamente, não farão mudança no evoluir dessa
pandemia."
Além da vacina, Covas citou que a quarentena e o "aprofundamento" dessas
medidas de distanciamento social é o que dará resultado. Ele comentou que a
pandemia ainda vai se estender por mais um tempo e que "a vacina,
seguramente, pode ser uma solução de médio a longo prazo".
Ludimila Honorato, O Estado de S.Paulo