Com 62 anos de história, restaurante frequentado por Luiz Gonzaga encerra atividades no Crato
Foto: Reprodução/Redes Sociais |
Donos precisaram fechar as portas devido os impactos econômicos causados pela pandemia da Covid-19
Hoje com paredes cinza azuladas e piso branco puxado para o marfim, o Restaurante Guanabara já foi palco de histórias compartilhadas com ilustres figuras como Altemar Dutra, Luiz Gonzaga, Fagner e Gonzaguinha. Ao longo de seus 62 anos de funcionamento, o estabelecimento no centro do Crato era conhecido por ser um local literalmente sem portas e aberto 24h. Devido à pandemia, no entanto, familiares precisaram fechar o local.
A dificuldade de custear as despesas do local e o pagamento dos funcionários permaneceu mesmo quando optaram por iniciar com o serviço delivery. Na metade agosto, após quase cinco meses de suspensão das atividades presenciais, constataram que não teriam como manter o funcionamento. O dinheiro não cobria nem um terço das despesas.
“Nos sentimos impotentes”, declara a Renata Maia Feitosa Cardoso, 37, neta do fundador do restaurante, o “Seu Neném”, como era conhecido Francisco Alves Feitosa, hoje com 89 anos e diagnosticado com Alzheimer.“Às vezes a gente calava ao invés de expor o assunto, como se a esperança estivesse falando mais alto”, afirma.
Em nota oficial aos amigos e clientes, divulgada neste sábado (12), os donos compartilharam a tristeza de encerrar um ciclo de histórias.
“A despedida não é fácil, dizer adeus para algo que faz parte de nossa história também não, mas a sensação de dever cumprido e de muita gratidão permanece viva no coração de cada um de nós que fazemos o Restaurante Guanabara”.
Memória
Com histórias de vida que muitas vezes se entrelaçam com a do restaurante, Renata optou por comunicar a decisão “difícil e dolorosa” inicialmente aos funcionários, uma vez que muitos trabalhavam no local há mais de 30 anos. “Se não tivesse tido essa pandemia, ainda estaríamos funcionando. Nós fomos obrigados a fechar, não teve como sustentar essa situação”, pontua.
Em meio à tristeza de fim do ciclo, Renata deseja que as histórias compartilhadas no local sigam vivas para todos os amigos e clientes que frequentaram o restaurante.
“Tenho uma filha de 23 que cresceu lá dentro. Eu deixava minha filha no restaurante para continuar meus estudos”, compartilha.
Parceria
A história do restaurante foi protagonizada não só por Seu Neném, como também por sua esposa, Maria Alvanita Maia Feitosa, 90 anos, que trabalhou bastante nos “bastidores”. Hoje, é ela quem relembra as histórias que o marido já não é mais capaz de guardar, compartilhando com as novas gerações as experiências não escritas no papel.
Se o avô tivesse lúcido e com condições financeiras, Renata acredita que ele não deixaria aquela história acabar. Para além de um mero local de trabalho, o restaurante era uma paixão que movia Seu Neném, amigos e funcionários. O avô buscava sempre garantir um atendimento acolhedor e de qualidade.
“Se eu tivesse o dinheiro para permanecer aberto, eu também nunca deixaria isso se acabar. O que nos deixa mais triste é o fim da história e o fim do ciclo”, finaliza.
Fonte: Diário do Nordeste