Lixão de Juazeiro do Norte segue com diversos pontos de combustão e ameaça a saúde da população
Legenda: 120 catadores de materiais recicláveis trabalham no lixão de Juazeiro do Norte - Foto: Antônio Rodrigues |
Grande parte do lixo foi queimado e a fumaça impede a visibilidade, inclusive, na rodovia ao lado. O problema é recorrente
Há pouco mais de um mês, o Diário do Nordeste noticiou os incomodos e danos causados pela fumaça formada no lixão ao céu aberto de Juazeiro do Norte. De lá para cá, a situação ficou ainda pior: vários pontos em combustão e a emanação cada vez maior, podendo ser avistada do Centro da cidade, a seis quilômetros de distância. Às margens da CE-060, a fumaça produzida incomoda os moradores de comunidades vizinhas e, também, os catadores de materiais recicláveis.
“Todo ano aqui é assim. Aqui embaixo é tudo fogo. Está queimando, porque é um gás que solta. A gente vem trabalhar, porque precisa”, desabafa um catador de materiais recicláveis, que preferiu não se identificar, minutos antes de se embrenhar no meio da fumaça.
Se em agosto o Sistema Verdes Mares flagrou fumaça em pontos isolados, já controlados pelo aterramento feito por tratores, ontem (22) a situação estava mais grave. Inclusive com chamas expostas em várias parte do lixão e o volume de fumaça que tornava a visibilidade ainda mais complicada.
“É difícil até para dormir de noite. Quem tem criança pequena em casa, fica preocupada”, narra a dona de casa Cícera Rosendo, da Vila Padre Cícero, que fica a mais de um quilômetro do local.
Este problema, que é recorrente no período mais quente do ano, já causou prejuízos aos catadores. Pedro Felix, por exemplo, há três anos viu sua barraca de madeira e rola ficar completamente destruída. “Perdi roupa, uma feira, o material de R$ 300 para vender. Até um celular velho eu perdi. Perdi tudo. Só não perdi os documentos, porque não guardava aqui”, pontua.
Legenda: Juazeiro do Norte produz, em média, 280 toneladas de lixo por dia - Foto: Antonio Rodrigues |
De acordo com o superintendente da Autarquia Municipal de Meio Ambiente (Amaju), o engenheiro ambiental, Sidney Kal-Rais, em locais com grandes quantidades de lixo é comum em épocas de altas temperaturas, porque a decomposição destes materiais gera gases, como o metano, que é inflamável
. “Muitas vezes, o vento sai disseminando o foco de queima no lixão. Neste tempo, se for em qualquer lixão, é quase certeza ter combustão”, admite.
Outro problema, segundo o superintendente da Amaju, é que os próprios catadores ateiam fogo no lixo para queimar o material plástico. “Fica apenas o alumínio e o ferro”, conta. A orientação, neste período de combustão, é que não trabalhem no local. “Mas não tem esse controle. Cortam o arame, adentram sem autorização”, completa.
Solução
De agosto para cá, Sidney confessa que não foi possível cessar o fogo totalmente, por ser um período muito quente. Ainda assim, foi destinado um maquinário exclusivo para tentar conter a fumaça, composta por dois tratores, dois caminhões caçamba e uma pá mecânica.
Para solucionar o problema, a Secretaria de Meio Ambiente e Serviços Públicos de Juazeiro do Norte (Semasp) está tentando firmar um contrato emergencial para destinar os resíduos do Município em dois aterros particulares da cidade.
“Isso solucionaria definitivamente. Estamos estudando a melhor forma. Prazo não tem como dar agora, principalmente em período eleitoral. É muito complexo”, acrescenta.
Com população estimada em 274 mil habitantes, Juazeiro do Norte produz, em média, 280 toneladas de lixo por dia, segundo o Amaju. Tudo isso é depositado no lixão. Isso representa, pouco mais de um quilo por morador. Lá, trabalham cerca de 120 catadores de materiais recicláveis.
Escrito por Antônio Rodrigues/Diário do Nordeste