Operação Carro-Pipa no Ceará tem atendimento reduzido em 50%
Legenda: O programa atende, por meio da distribuição de água potável, localidades castigadas por períodos de seca. - Foto: Honório Barbosa |
Com nova metodologia de pagamento adotado pelo MDR, pipeiros revelam desinteresse em aderir ao programa federal que fornece água a localidades do sertão cearense. Com isso, cerca de 75 mil pessoas deixaram de ser atendidas
Cerca de 75 mil moradores das regiões do Sertão Central, Sertões de Canindé e dos Inhamuns, no interior cearense, estão desassistidos pela Operação Carro-Pipa, do Governo Federal. Esse número representa quase de 50% da demanda atual, que é de a 152.861 habitantes, distribuídos em 55 municípios do Estado. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR).
Para atender à demanda atual - e crescente a partir deste mês de setembro, uma vez que as cisternas, poços e pequenos reservatórios estão secando com o distanciamento da quadra chuvosa no Ceará -, há necessidade de contratação de 780 carros-pipa. No entanto, segundo o MDR, em agosto foram contratados apenas 392.
A defasagem no número de pipeiros contratados decorre, segundo o Sindicato dos Pipeiros do Ceará (Sinpece) e as Coordenadorias Municipais de Defesa Civil (Comdec), da mudança de modelo aplicado para calcular os valores de pagamento pelos serviços de acordo com o volume de água transportado. Em setembro, o MDR começa a aplicar o reajuste do índice multiplicador.
"Deixou de ser interessante porque a determinação agora é captar água de reservatórios mais próximos das localidades de cada rota e desse jeito o ganho não cobre as despesas. Ninguém quer trabalhar para ganhar quase nada", explica o diretor do Sinpece, Eduardo Aragão.
Ainda conforme Aragão, a Operação-Pipa paga pelo quilômetro rodado o valor de R$ 3,50, mas apenas para a ida, com a chamada 'carrada cheia'. "O retorno não é incluído", ressaltou. "Só compensa se houver rota acima de 70km". Desta forma, menos pipeiros têm se interessado pelo chamamento do Exército.
O reflexo deste cenário é o atraso na retomada da distribuição de água para as famílias que vivem em comunidades do Sertão. Em setembro de 2019, por exemplo, o Sinpece informou que o Ceará contava com 600 caminhões-pipa distribuindo água em 70 municípios. Números bem menores do que os atuais.
Demanda
Em Tauá, por falta de pipeiros, a Operação-Pipa ainda não começou. De acordo com a Comdec, 25 mil pessoas de 560 localidades rurais aguardam o início da distribuição de água por caminhões. "A carência é grande, não choveu bem em todas as regiões e a maioria das cisternas secou, explica Leandro Setúbal, gerente da Comdec de Tauá.
No Município de Canindé, só três caminhões-pipa fazem a distribuição a partir da coleta de água na Estação de Tratamento da Cagece, em Maracanaú, distante 109km. "Só temos três caminhões para atender a todo o Município, mas precisamos de pelo menos 13", diz a gerente da Comdec, Francilene Belém.
Já em Quixadá, segundo a gerente da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil, Jardene Girão, "são necessários cerca de 70 caminhões-pipa, mas só existem dois contratados para atender 13 distritos".
Nas comunidades do distrito Várzea da Onça, na zona rural do Município, 25 famílias só estão recebendo água uma vez a cada dez dias. O volume tem sido insuficiente. "A carência é muito grande", pontua Jardene.
No município de Aiuaba, na região dos Inhamuns, o quadro é semelhante às demais cidades. "A distribuição de água com os caminhões-pipa ainda não começou e estamos esperando porque há cerca de duas mil pessoas precisando de água", observa o gerente da Comdec de Aiuaba, Gabriel Silva. "Precisamos de 30 pipas, embora 15 caminhões já dariam um alívio", pondera.
Readequação
De acordo com o MDR, o novo modelo otimiza os custos do programa que agora passa a "calcular os valores de pagamento pelos serviços de acordo com o volume de água transportado, a distância do manancial até o ponto de abastecimento e a quantidade de viagens realizadas".
Questionada se o valor por km sofreria algum reajuste, a Pasta não respondeu.
Escrito por Honório Barbosa/Diário do Nordeste