Perfuração de poços é aposta para ampliar oferta de água em Salitre
Legenda: Para ampliar a oferta de água na área urbana, estima-se um incremento de vazão de pelo menos 21m/h. A construção dos poços supriria essa demanda. - Foto: Antonio Rodrigues |
Com uma das menores médias pluviométricas do Ceará, o Município enfrenta grave problema de escassez hídrica. Para minimizar esse impacto, estão sendo perfurados poços profundos. A cidade recebeu ainda implantação de cisternas
Localizado no sul do Ceará, o município de Salitre convive com históricos problemas de escassez hídrica. A situação se agrava, pois, além de ter uma das menores médias pluviométricas do Estado (650 mm), seu solo não apresenta condições de receber grandes açudes.
Com a proposta de minimizar esse cenário, a Superintendência de Obras Hidráulicas (Sohidra) iniciou, em parceria com a Cagece, a perfuração de dez poços profundos que devem ampliar o abastecimento da cidade ainda neste ano. A previsão é que as perfurações sejam concluídas neste mês - em setembro, também foram implantados dez poços, mas só dois tiveram vazão, aumentando a oferta hídrica em 15%, conforme a Cagece.
Cada um custa, em média, cerca de R$ 24 mil, com recursos do Estado. Após a perfuração, será realizado teste de vazão e apenas após o resultado é que são iniciados os estudos para verificar a capacidade para abastecimento. Até que estes novos poços iniciem a missão de ofertar mais líquido aos moradores, a cidade tem sido abastecida de forma alternada nos bairros que são contemplados pela água encanada.
“O sistema da cidade possui sete poços tubulares e a operação em regime de contingência visa preservar os recursos hídricos disponíveis para garantir o abastecimento da população”, justificou a Cagece.
Essa realidade de alternância no abastecimento, embora seja limitada, é ainda melhor do que a vivenciada por outros moradores da zona urbana. Cerca de 33% não possuem água encanada na sede do Município. Ao todo, são 4.310 pessoas abastecidas pela Cagece. O restante se soma ao quase 10 mil moradores da zona rural que só têm acesso ao recurso hídrico através da compra, de cisternas ou pela assistência da Defesa Civil, através dos caminhões-pipa.
Sem água encanada na torneira, o aposentado Francisco José da Costa, diariamente compra 320 litros para abastecer sua caixa-d’água. O valor de R$ 6. Salobra, esta água é utilizada apenas para banho e limpeza da casa. A água para beber e cozinhar é trazida de Araripina (PE), e também é paga: R$ 1 por dez litros.
“Todo dia tem que colocar o tambor. É só a conta. Aí no outro dia, novamente. Com isso, vai R$ 50 na semana”, descreve Francisco.
Complemento
Para contemplar as famílias que não são assistidas pela Cagece, a Secretaria do Desenvolvimento Agrário do Estado (SDA) implantou 1.750 cisternas de placas, 194 cisternas de enxurrada, 20 barragens subterrâneas e dois sistemas de reúso d’água de cinzas domiciliares nos últimos sete anos.
Segundo a Pasta, estes equipamentos “garantem segurança hídrica, produção agrícola e desendentação animal” em Salitre. O investimento foi superior a R$ 6 mi. Ainda conforme a SDA, há previsão de construir mais 346 cisternas de placa, cinco sistemas de reúso e cinco cisternas escolares. A Secretaria, no entanto, não estimou nenhum prazo.
Além disso, através da Coordenadoria de Abastecimento de Água e Abastecimento (Coágua), a SDA afirmou já ter investido R$ 1,3 milhão na implantação de cinco abastecimentos d’água em comunidades rurais, representando um total de 286 famílias atendidas com água na torneira.
Ao todo, ainda conforme a SDA, “mais de 2.500 famílias estão sendo atendidas com ações em segurança hídrica no Município”.
As demais localidades rurais de Salitre são atendidas por carro-pipas, de gerência da Defesa Civil do Município. No entanto, o recurso tem sido insuficiente para algumas localidades, como na Serra das Chagas. “A Defesa Civil manda oito carradas no mês para abastecer 42 famílias, é pouco”, narra a agricultora Marineide Francisca Alencar.
Para suprir a demanda, os próprios moradores se dividem e compram de um caminhão-pipa, que custa R$ 80. O Sistema Verdes Mares tentou contato com a Defesa Civil de Salitre, mas não teve retorno.
Localização geográfica
A gerente de Meteorologia da Funceme, Meiry Sakamoto, explica que a falta de chuva na cidade “está relacionada à sua localização geográfica e as condições topográficas da região que não favorecem a ocorrência de chuvas”. Salitre fica no sotavento da Chapada do Araripe, em uma área onde o movimento do ar vem de cima para baixo, e isso acaba inibindo a formação e o crescimento das nuvens.
Escrito por Antonio Rodrigues/Diário do Nordeste