Maior abalo sismico do Norte e Nordeste completa 40 anos
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O tremor de terra em Pacajus impulsionou estudos no Brasil e despertou a curiosidade sobre o tema entre pesquisadores e moradores
Quando o relógio marcar 12h32 desta sexta-feira (20) transcorre exatamente 40 anos do maior terremoto registrado no Nordeste e Norte do Brasil, que teve epicentro em Pacajus, na Região Metropolitna de Fortaleza. No início daquela madrugada, o chão tremeu no Ceará e foi sentido em vários municípios, em um raio de 600km.
O evento ficou conhecido por ‘Tremor de Pacajus’, que registrou magnitude de 5.2 na Escala Richter, pouco depois da meia-noite de uma quinta-feira. Moradores saíram às pressas de casas e apartamentos com trajes de dormir, sem entender o que havia ocorrido, com muitas dúvidas, relatando o que sentiram e em meio ao medo, temiam um novo tremor e consequências mais graves.
Em julho passado, houve um novo tremor de terra na região de Pacajus com intensidade de 2.5 na Escala Richter. Nos últimos dez anos, o Laboratório de Sismologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LabSis/UFRN) registrou mais de 12 mil tremores no Ceará.
Impacto
A 400km de Pacajus, na cidade de Iguatu, na região Centro-Sul do Ceará, o então comerciário, Expedito Freitas, acompanhava um paciente na Casa de Saúde Agenor Araújo. “Estava tudo calmo e eu estava sentado na varanda, conversando com as enfermeiras, quando sentimos a terra tremer”, contou. “A gente não sabia o que era”.
No bairro de Fátima, em Fortaleza, o contabilista Braulino Oliveira, acordou assustado e desceu com a família do segundo andar de um prédio de apartamentos. “Todo mundo desceu do jeito que estava vestido para dormir, em todos os blocos, e cada um contava a sensação que passou”, relembrou. “Continuamos conversando por mais de meia hora, com medo de voltar para a cama”.
Aos poucos, o medo foi passando e, no dia seguinte, emissoras de rádio relatavam o tremor, contavam histórias de moradores e buscavam especialistas para comentar o evento. Foi o assunto que dominou a conversa durante o dia e alimentou os veículos de comunicação.
Um levantamento feito registrou que 488 casas foram danificadas no epicentro do fenômeno registrado na localidade de Brito, no município de Cascavel, divisa como o município de Chorozinho.
Na época, Chorozinho era distrito de Pacajus (a emancipação ocorreria sete anos depois). “O batismo de um evento sísmico acontece em função da proximidade do local com o maior contingente populacional”, justificou Francisco Brandão, chefe do núcleo de sismologia da Defesa Civil do Ceará.
Nesse intervalo de tempo, milhares de terremotos ocorreram no Ceará com magnitudes variadas. Brandão ingressou no Estado em 1981 e, em 1986, passou a trabalhar na Defesa Civil. Até hoje acompanha os tremores de terra no Ceará, assunto em que se especializou. “O abalo sísmico é recorrente, e não previsível”, frisou. “A ciência ainda não tem como prever o terremoto que pode ocorrer no mesmo lugar. É só uma questão de tempo”.
Registro
Os tremores de terra no Ceará são registrados pelo LabSis/UFRN), que mantém seis estações de monitoramento no Estado e 60 no Nordeste. Essas unidades foram instaladas por norte-americanos, em 1976, e gerenciadas pela Marinha do Brasil, que depois transferiu o acervo para a UFRN.
“Antes deste tremor de Pacajus, pouco se falava em tremor de terra no Nordeste”, observou Eduardo Menezes, coordenador do LabSis. Ele lembra que, a partir da segunda metade de 1980, ocorreu por mais de dez anos “uma sequência intensa de tremores em João Câmara (Rio Grande do Norte) e dois tiveram magnitude de 5.0 e 5.1”.
Estudos
A partir desses eventos, os estudos sobre tremores de terra na região Nordeste e no Brasil foram aprofundados. Os pesquisadores mostram que a população tem como dúvidas mais comuns: será que os tremores estão ocorrendo com mais frequência nas últimas décadas? Eles são previsíveis? Podem ocorrer grandes eventos no Brasil, a exemplo de outros países?
Essas e outras questões serão debatidas nesta quinta-feira (19) em uma mesa redonda promovida pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM), reunindo autoridades sobre o assunto, como os pesquisadores Marcelo Assumpção (USP), Marcos Ferreira (SGB-CPRM) e Aderson Farias Nascimento (UFRN). O evento é online e gratuito a partir das 15h, no canal da CPRM no Youtube.
Amanhã, sexta-feira (20), haverá outro debate promovido pela Universidade Nacional de Brasília (UNB) a partir das 14h. Na ocasião, Francisco Brandão fará o lançamento de uma nova cartilha da Defesa Civil do Estado com orientações sobre como proceder em casos de tremores de terra e um histórico dos principais tremores no Ceará.
Tremores
No Ceará as ocorrências de tremores de terra são recorrentes na região da Serra da Meruoca, Irauçuba, parte do Litoral Leste e no Baixo Jaguaribe, além do Sertão Central. De acordo com a Defesa Civil, já foram registrados tremores em 62 municípios cearenses.
O primeiro registro é de 1807, em Pereiro. O segundo tremor de terra de maior intensidade no Ceará foi observado em 1991, em Irauçuba, com intensidade de 4.9 graus.
Classificação dos tremores
Escala Richter
- 3 a 3,9 graus - são percebidos, mas não causam danos materiais.
- 4 a 4,9 graus - eventualmente provocam estragos em carros e vidros.
- 5 a 5,9 - causam danos em construções sólidas, rachaduras.
- 6 a 6,9 - causam estragos em um raio de 100 km, destroem pontes e estradas.
Escrito por Honório Barbosa/Diário do Nordeste