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Um em cada 10 cearenses têm dificuldade de acesso à água

Um em cada 10 cearenses têm dificuldade de acesso à água

Legenda: A esperança de quem não tem acesso à água é a construção de obras hídricas - Foto: ANTONIO RODRIGUES

Sem rede de abastecimento, longe de fontes hídricas como açudes, lagoas ou riachos, pouco mais de 1 milhão de cearenses têm dificuldade para conseguir acesso à água, aponta pesquisador

São 1.036.844 pessoas que ainda não têm acesso direto à água no Ceará. Este número representa 9,1% da população do Estado, estimada em 9,1 milhões de habitantes pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este estudo foi feito pelo geólogo e ex-presidente da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), Yarley Brito, que levou em conta o número de famílias com acesso a sistemas de abastecimento domiciliares, os atendidos por caminhões-pipa e o número de famílias com acesso a cisternas.

O levantamento, conforme Yarley, apontou que o número de pessoas com abastecimento domiciliar é de 7.560.287, sendo 6.034.974 pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), 600 mil pelo Sistema Integrado de Saneamento Rural (Sisar) e 925.313 pelos Serviços Autônomos de Água e Esgoto SAAE's, este último, dado do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento.

O restante consegue o chamado "abastecimento difuso". Segundo a Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), 99.535 famílias são beneficiadas com cisternas. Como a média de ocupação de um imóvel no Ceará é de 3,65 por casa, 363.550 pessoas têm acesso através das tecnologias sociais. Por fim, segundo o próprio Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), em outubro, 162 mil pessoas foram atendidas pela Operação Pipa, enquanto a Defesa Civil do Estado atende 17.650 famílias em Choró, Monsenhor Tabosa e Pedra Branca, que dá em torno de 64.422 cearenses.

"Este levantamento é embrionário, precisa de detalhes de cada Município que facilitaria saber a condição que cada um vive. Mas já dá uma certeza que mais de 1 milhão de pessoas não têm abastecimento nenhum. E eu acredito que é muito mais", pontua Yarley.

O geólogo reforça que estas pessoas fazem parte de uma população difusa, onde a água é cara e distante. Ou seja, acabam comprando pelos próprios caminhões-pipa, utilizando recurso hídrico sem tratamento ou recebendo algum auxílio do poder público municipal. "E isso vai gerar um custo ao Estado na Saúde. Sem água tratada, ficam sujeitos a doenças", completa.

Nesta soma está o agricultor Raimundo Rodrigues Sobrinho, de 73 anos, que há 30 anos mora no Sítio Baixa Dantas, no Crato. De carroça, ele percorre cerca de quatro quilômetros por dia até um poço para garantir água para a família. "Sempre foi essa dificuldade. Só tem água no inverno. O (caminhão) pipa vem e dá pra botar só na caixa. E para ele vir, tem que cobrar".

A realidade não é diferente do seu vizinho Airton Santos e de outras 19 famílias. "Passei cinco dias sem água para beber. O pessoal teve pena de mim e pude pegar. Aqui botaram água pelo carro-pipa semana passada, mas a gente precisa de água é todo o dia". Raimundo e Airton moram a pouco mais de 400 metros do Trecho 1 do CAC. A obra ainda não avançou até lá, apesar das águas do Rio São Francisco já percorrerem 53 quilômetros do território cearense.

Esperança

Na comunidade de Quixabinha, em Mauriti, na região do Cariri, o Eixo Norte do Projeto de Integração do Rio São Francisco (Pisf) é vizinho da residência do agricultor e motorista José Barbosa Lima. Sem abastecimento regular pelo poço da comunidade, que chega a faltar por três dias, seu sonho é ter acesso à água da transposição. "A gente produzia até banana com o açude cheio, mas agora só planta no inverno", lamenta.

Yarley acredita que a tão sonhada segurança hídrica do Ceará precisaria de água de um rio perene "que não temos". A transposição do 'Velho Chico' seria a saída para a água chegar em regiões de maior escassez, como o Sertão dos Inhmauns, beneficiado pelo CAC nas próximas etapas. "É preciso socializar com projeto de adutoras".

A técnica da Defesa Civil do Estado, Ioneide Araújo, reforça que várias localidades e centros urbanos no entorno de canais são beneficiados por projetos que incluem obras, sistemas de adução e implantação de Estações de Tratamento de Água. "Em Palhano, nas Margens do Canal do Trabalhador, comunidades deixaram a dependência do carro-pipa. O mesmo vai ocorrer no futuro breve com o Cinturão das Águas do Ceará (CAC)".

A Secretaria de Recursos Hídricos do Estado (SRH) reforçou que o Pinf tem como atendimento prioritário o abastecimento humano de aproximadamente 400 municípios do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. O MDR reforça que está previsto na concepção do Pisf o atendimento a pequenas comunidades ao longo do canal, em uma faixa de 10 quilômetros. No Ceará, serão atendidas 30.576 habitantes em 64 comunidades rurais.

Escrito por Antônio Rodrigues e Honório Barbosa/Diário do Nordeste

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