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Medo de contaminação pela Covid-19 esvazia igrejas no interior

Medo de contaminação pela Covid-19 esvazia igrejas no interior

Mesmo com restrições de capacidade pela metade, o público tem sido bem abaixo do permitido. Templos adotaram controle e medidas sanitárias, mas a participação nas celebrações tem sido pequena

Oito meses após o início da pandemia do novo coronavírus no Ceará, as igrejas católicas ainda não recebem a totalidade de fiéis. Por prevenção, a ocupação dos templos varia entre 30% e 50%, dependendo da paróquia. Por temor das pessoas com mais idade, que costumam participar com maior regularidade das missas, o público está aquém do esperado pelos religiosos.

A pandemia também impactou os dois maiores centros de romaria do Nordeste, no Ceará, reduzindo em cerca de 80% o número de devotos nas basílicas de São Francisco, em Canindé, no Sertão Central; e de Nossa Senhora dos Dores e na Colina do Horto, onde está a imagem de Padre Cícero, em Juazeiro do Norte.

O médico sanitarista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Ceará, Odorico de Andrade, observou que "o coronavírus se multiplica quando há aglomeração, proximidade entre as pessoas" e que ambientes fechados e climatizados "facilitam esse processo e contribuem para o aumento da taxa de transmissão". Andrade ressalta que quanto menor o número de pessoas nas igrejas, menor o risco de contágio. "A quantidade há de variar segundo o tamanho do templo e condições de ventilação, mas é imprescindível o uso de máscara e de outras medidas sanitárias de prevenção". Ele defende percentual de, no máximo, 25% de participantes nas igrejas.

Templos

Uma das igrejas mais marcantes do Ceará, a Basílica de Nossa Senhora das Dores, em Juazeiro do Norte, tem recebido poucos fiéis. Na entrada, álcool em gel fica à disposição dos devotos, enquanto nos bancos há sinalizações marcando o distanciamento. Geralmente o espaço, de pouco mais de 1,5 metros, é respeitado, ainda que também seja sintoma do esvaziamento dos templos.

A Diocese de Crato, composta por 57 paróquias, que inclui a Basílica de Nossa Senhora das Dores, liberou a participação de público durante as missas desde o dia 16 de setembro, respeitando medidas como a restrição a 50% da capacidade, uso de máscaras e disponibilidade de álcool em gel. Algumas, inclusive, fazendo o aferimento de temperatura.

A própria administração da Igreja Matriz de Juazeiro do Norte recomendou que pessoas de grupo de risco, como idosos, acompanhem a programação pela TV Web Mãe das Dores, que transmite as missas pelo YouTube. Nos fins de semana, quando a procura é maior, é necessário se inscrever na Secretaria da Basílica. Na Capela do Socorro, aos sábados (às 17h) e domingos (6h e 17h), a missa é campal, sem necessidade de inscrição.

Apesar de estar no grupo de risco, a aposentada Maria das Graças Aragão, de 74 anos, optou por acompanhar a missa presencialmente, escolhendo a celebração das 9h. "Para mim, o mais difícil foi me manter longe da missa. Não é a mesma coisa assistir em casa. Eu venho, mas fico no meu canto e nessa hora tem pouca gente, né?", justifica.

Durante a Romaria de Finados, por exemplo, a Basílica de Nossa Senhora das Dores tem uma média diária de 50 mil fiéis ao dia, sem conseguir comportar o número de devotos. Com as restrições e os romeiros em suas casas, não ocupou 5% desta quantidade. Hoje, a capacidade é de 800 pessoas - 450 sentados e 350 em pé. O habitual tem sido 20% deste total. "Os nossos fiéis estão muito disciplinados, se comportando e cumprindo as medidas sanitárias", avalia Dom Gilberto Pastana, líder da Diocese de Crato.

"As celebrações dentro da igreja sempre com todos os cuidados, distanciamento social, uso de álcool em gel, algumas até medindo a temperatura e, normalmente, cerimônias públicas não estão acontecendo, com raras exceções, como no dia 20, quando ficam no entorno da Capela do Socorro, mas mantendo distanciamento", detalhou o bispo, citando a missa em memória do Padre Cícero, que acontece a cada dia 20.

Após a reabertura da Colina do Horto, em Juazeiro do Norte, onde está a estátua do Padre Cícero, houve expressiva queda de visitantes. A média diária, que variava entre 3 mil a 5 mil pessoas em períodos regulares - fora das romarias - agora está entre 200 a 300 pessoas. Há um controle na entrada que dá acesso ao monumento, checando a temperatura, além de outras medidas sanitárias, como diminuição dos comerciantes em 50%. O acesso funciona de 7h às 12h e de 14h às 17h, mas sem as chamadas "caravanas", que reúnem dezenas de romeiros.

A gestora da Colina do Horto, Francisca Maria de Santana, reforça que o retorno das atividades vem acontecendo gradualmente, debatido através de reuniões entre comerciantes e colaboradores. "Tudo para que pudesse acolher os visitantes da melhor forma possível e também se prevenir contra o coronavírus", ressaltou Francisca Maria.

Escrito por Antonio Rodrigues e Honório Barbosa/Diário do Nordeste



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