Usina de Barbalha deve se tornar Centro de Tecnologia de Cultivo
Legenda: Apesar das negociações para reativação, Usina permanece fechada há 16 anos. - Foto: André Costa |
O equipamento será referência para agricultura e aquicultura no Cariri, trazendo o cultivo de frutas, verduras e legumes em estufa aliado ao uso de tecnologia. Agricultores terão apoio técnico para implementar a produção
Desativada há mais de 16 anos, a Usina Manoel Costa Filho, hoje Usina Cariri I, em Barbalha, adquirida pela Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), por leilão, no valor de R$ 15,4 milhões, em 2013, deve se tornar o primeiro Centro de Tecnologia de Cultivo em Ambiente Protegido, do Cariri. O projeto, idealizado pela Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Estado (Sedet), deve ser concluído este mês. A instalação já foi aprovada pelo governador Camilo Santana.
O secretário executivo de Agronegócio da Sedet, Silvio Carlos Ribeiro, detalha que a ideia é criar um equipamento de referência para o cultivo de frutas e hortaliças, sob proteção de estufa. "Vai favorecer a economia de insumos, de água, dar maior produtividade e padronização aos vegetais", explica. A iniciativa parte de experiências no exterior e que têm tido sucesso também na região da Ibiapaba, aqui no Ceará. "Hoje, os produtos que têm o maior valor bruto são da Ibiapaba, porque focou em culturas de alto valor agregado, como rosas, morango, pimentão e tomate", exemplifica Ribeiro.
Aquicultura
O espaço também será dedicado a aquicultura, incentivando a produção em cativeiro de tilápia e camarão, por exemplo, a partir do uso de tecnologias. "Estamos conversando com algumas universidades. A Universidade Federal do Ceará (UFC) vai entrar como parceira. O objetivo é levar tecnologia para a região do Cariri. Outra visão, uma agricultura moderna, que pode dar um grande retorno", explica.
Em um primeiro momento serão formados técnicos, que repassarão conhecimento para os produtores. O agricultor poderá visitar, entender como funciona o cultivo em ambiente protegido e ter apoio técnico na parte de irrigação, adubação e fertilização. "Tudo isso com oportunidade de ver e aprender. Seria um centro de referência de como se produzir", completa Ribeiro.
O espaço da Usina foi escolhido por dois fatores: localização e o atual estado de inatividade. Na margem da CE-293, o equipamento é vizinho a outros importantes espaços de formação agrícola, como o campo de experimentação de algodão da Embrapa e a Fábrica Escola de cana-de-açúcar. A área, de aproximadamente 6,6 hectares, serviria para instalação do Centro, enquanto o maquinário que ali se encontra será vendido por leilão. "Não dá pra funcionar os dois ao mesmo tempo", pontua o secretário executivo.
História
Instalada em 1976, a Usina Manoel Costa Filho representou renda e prosperidade. Entre 1980 e 1990, foi responsável por quase quatro mil empregos. Chegou a comercializar 5 mil sacos de açúcar e tinha capacidade de produção de 40 mil litros de álcool por dia.
Ao mesmo tempo que teve impacto positivo, também foi responsável por liquidar os engenhos artesanais, comprando seus maquinários para destrui-los, transformando os antigos produtores em simples fornecedores da matéria-prima, aponta o advogado e pesquisador da cultura canavieira, Heitor Feitosa. "Começou a comprar dos pequenos produtores a produção, prometendo malha viária para o escoamento, buscando direto nas plantações e diminuindo a concorrência. O mercado consumidor era apenas dela".
Decadência
Nos anos 2000, houve o declínio na produção da cana no Cariri. Com a escassez da principal matéria-prima responsável por ser a força-motriz da Usina, veio a paralisação das atividades, em 2004. A esperança era que a cultura, que já havia abastecido mais de uma centena de engenhos em Barbalha, fosse reativada com a aquisição da Usina pela Adece, que tentou negociar com a iniciativa privada.
Ano passado, em entrevista ao Diário do Nordeste, a Adece garantiu que estava em negociação com uma empresa para assumir o local, mas não deu maiores detalhes "por questões de confidencialidade e também para não atrapalhar as negociações". Na época, se ventilava a produção de batata-doce industrial como cultura de maior viabilidade para a região, tendo em vista a menor necessidade de mecanização e de água. Há quatro anos, diante da inatividade, estimava-se gasto de aproximadamente R$ 35 milhões para recuperação do maquinário ali existente.
Sete anos mais tarde, nada se concretizou, mas, segundo a Sedet, ainda há interessados em adquirir a Usina. "Estamos aguardando a definição de dois investidores interessados. Se encampar a ideia e o projeto for viável, poderíamos até fazer o Centro em outro local", pondera Ribeiro. Caso não avance, a expectativa é que o Centro de Tecnologia de Cultivo em Ambiente Protegido esteja funcionando a partir do segundo semestre de 2021.
Escrito por Antônio Rodrigues/Diário do Nordeste