Municípios relatam quadro crítico com lotação de unidades por Covid e carência de oxigênio no CE
Legenda: Secretários de Saúde citam cenário de preocupação com avanço da pandemia e falta de oxigênio - Foto: Fabiane de Paula |
Em Paraipaba, Santa Quitéria, Uruburetama e Pentecoste, situação é considerada preocupante, mesmo com transferências pontuais de pacientes com Covid-19 e envio de cilindros de oxigênio pela Secretaria de Saúde do Ceará
Apreensão no Interior cearense com a lotação de leitos hospitalares e risco iminente de falta de oxigênios para pacientes internados com Covid-19. A situação é relatada nas cidades de Paipaba, Pentecoste, Uruburetama e Santa Quitéria nesta segunda-feira (15) e preocupa secretários de saúde. Mesmo com o auxílio da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), que tem articulado transferências de pacientes e enviado cilindros de oxigênio, o cenário segue crítico, segundo os gestores.
O aumento de casos graves em pacientes que necessitam oxigenação tem sobrecarregado as cidades. Para a presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems), Sayonara Moura Cidade, a situação mais grave ocorre na região Norte do Ceará.
“Nunca tivemos um consumo tão elevado de oxigênio no Interior quanto agora, nesta segunda onda da pandemia. E, para piorar, a empresa (responsável) não fez a distribuição dos cilindros neste fim de semana”, afirma Sayonara.
Apreensão no interior
Em Santa Quitéria, por exemplo, são 40 leitos de enfermaria para Covid-19 - 28 no hospital municipal e 12 na unidade de campanha. No domingo, a Secretaria de Saúde do Estado fez a doação de 19 cilindros e nesta segunda-feira mais oito. “Acabamos de receber seis respiradores portáveis, lacrados, do Ministério da Saúde, mas sem oxigênio não adianta, não funciona”.
Legenda: Santa Quitéria tem 45 mil habitantes e está localizada a cerca de 230 quilômetros de Fortaleza - Foto: Divulgação |
“Uma mulher de 56 anos acabou de morrer (segunda à tarde) por Covid-19. Todos os 29 leitos para Covid estão ocupados e o caos se instalou. É o pior momento que a saúde brasileira vivencia”, desabafa o secretário de Saúde do município, Adeilton Mendonça.
"Correria grande"
Paraipaba oferece dez leitos para Covid-19 e todos estão ocupados, segundo a secretaria de Saúde do município. “Não chegou a zerar o estoque de oxigênio, mas houve o risco concreto neste sábado, que foi uma correria grande”, contou a titular da pasta, Griceli Bárbara de Oliveira.
Antes do agravamento da pandemia, a unidade de saúde usava em Paraipaba uma média de 15 cilindros de oxigênio por semana, mas hoje são 45 por dia. A empresa fornecedora enviou nesses dois dias 20 cilindros e a Sesa mais 15. “Não sabemos como vai ser nos próximos dias”, pontuou Griceli Bárbara. “É uma doença que traz uma situação instável, de uma hora para outra muda tudo”.
Chegada de oxigênio
O desabastecimento de oxigênio em Uruburetama não ocorreu neste fim de semana porque a Sesa conseguiu enviar 50 cilindros de oxigênio no sábado e domingo (14), e nesta segunda-feira mais dezesseis oriundos do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), de acordo com informações da secretaria de Saúde do município.
O secretário de Saúde de Uruburetama, João de Castro, disse que “no último sábado, transferimos seis pacientes para Itapipoca -quatro para UTI e dois para ala de enfermaria. No domingo, mandamos mais um para UTI”.
Legenda: Cresce número de pacientes com Covid-19 que demandam oxigênio em cidades do interior - Foto: Helene Santos |
Uruburetama oferecia nove leitos de enfermaria, mas hoje houve a ampliação para 14. “Sete estão ocupados e os pacientes continuam chegando”, disse Castro.
Os municípios de Uruburetama, Santa Quitéria, Paraipaba e Pentecostes não dispõem de Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Oferecem apenas leitos de enfermaria.
Socorro às cidades
Diante da situação, os gestores entraram em contato com a Prefeitura de Paracuru em busca de transferência de pacientes e de fornecimento de oxigênio. O secretário de Saúde do Município, Ângelo Nóbrega, frisou que recebeu dois pacientes de Pentecoste, mas havia 11 necessitando de transferência, que foram para a Santa Casa de Misericórdia em Sobral, graças a uma articulação da Sesa”. Nóbrega explicou que “o município ajudou o quanto podia” e que o quadro atual é “de muita preocupação”.
A demanda por leitos e oferta de vagas varia a cada dia nas unidades dos hospitais. “É um quadro muito instável porque pela manhã podemos ter duas vagas e no fim da tarde mais pacientes chegarem da região precisando de leitos de enfermaria ou de UTI”, explicou Sayonara Moura, presidente do Cosems.
Neste fim de semana, explica Sayonara, que também é secretária de Saúde de Iguatu, recebeu pedido para transferência de pacientes oriundos de Mombaça para leitos de UTIs e de enfermarias no município. Já são cinco pacientes oriundos da cidade vizinha internados em unidades de terapia intensiva de hospitais de Iguatu.
Mombaça tem 42 pacientes hospitalizados no momento e registra 62 óbitos desde o início da pandemia do novo coronavírus. Já em Iguatu, de um total de 30 leitos de UTI, divididos igualmente em três hospitais, a taxa de ocupação era de 90% nesta manhã. “É triste, muito preocupante, mas a situação vem se agravando a cada dia em todo o Ceará”.
Escrito por Honório Barbosa/Diário do Nordeste