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Profissionais relatam desgaste físico e mental na luta contra Covid: 'estou trabalhando 84 horas por semana e o limite já passou'

Profissionais relatam desgaste físico e mental na luta contra Covid: 'estou trabalhando 84 horas por semana e o limite já passou'

Débora Coutinho é médica e trabalha no combate à Covid-19 em uma UPA e em três hospitais de Pernambuco — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Um ano após o registro da primeira morte no estado, equipes de saúde acompanham o aumento do número de leitos e se mostram preocupadas com a situação, já que médicos alertam para o esgotamento.

Há um ano, Pernambuco registrou a primeira morte por Covid-19. Desde então, profissionais de saúde da linha de frente acompanham o aumento do número de leitos de UTI e enfermarias na rede pública, mas apontam que é necessário combater um grave problema: o desgaste físico e mental.

“Estou trabalhando 84 horas por semana. O limite já passou há muito tempo”, desabafou a médica Débora Coutinho.

A médica integra uma relação de 49 mil profissionais que trabalham na rede pública do estado. Segundo Débora, a cada plantão, a carga emocional dos profissionais de saúde é testada. Em um ano, o número de mortes em Pernambuco aumentou 18%, por causa da Covid.

“O plantão pode estar calmo, mas, se um paciente tem intercorrência na hora de sair, desestabiliza tudo. O sentimento é de 'eu não fiz nada, eu não consegui', mas não é você. Você faz 150% do seu trabalho, mas o sentimento é de que poderia ter feito mais”, declarou.

O drama relatado por profissionais de saúde de Pernambuco vem sendo observado em outros estados.

Diante da falta de anestésicos, 24 trabalhadores pediram demissão na Santa Casa de São Carlos (SP). Na quarta (24), a unidade informou que o atendimento de UTI corria o risco de ser suspenso.

Até a quarta (24), Pernambuco somava 2.611 leitos para Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) na rede pública, sendo 1.437 de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e 1.174 de enfermaria.

Na rede privada, Pernambuco totalizava 735 leitos para Srag, sendo 440 de UTI e 295 de enfermaria (veja vídeo abaixo).

Nos primeiros 20 dias de março, o estado informou ter aberto 383 leitos de UTI em 14 cidades de todas as regiões. Segundo o governo, o número equivale a seis Hospitais da Restauração, a maior emergência pública do Norte e Nordeste, que tem 60 leitos de UTI.

Débora se divide entre o atendimento em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e em três hospitais com ambientes para pessoas com Covid-19. Segundo ela, as propostas para atuar em mais locais onde há abertura de leitos sempre chegam, mas nem todas são aceitas pelos profissionais.

“É uma pergunta que me faço todos os dias: ‘quem é que vai trabalhar?’[nos leitos que estão sendo abertos] Tem colegas dando cento e tantas horas [por semana]. Tem colega que não aguenta mais e está dando só 48 horas. Quem é que vai estar trabalhando esses locais?”, disse Débora.

Segundo a profissional de saúde, o desgaste de profissionais que lidam com pessoas com Covid-19 é superior ao de outros casos de internamento.

“Quando a gente trabalha em urgência, a gente vê muita tragédia, acidente, casos de violência, muita coisa que abala bastante, mas não é todo dia, em todo plantão, várias vezes no plantão”, afirmou.

Nos primeiros 20 dias de março, governo de Pernambuco afirmou ter aberto 383 leitos de assistência à Covid-19 — Foto: Hélia Scheppa/SEI

A médica Laura Oliveira também atua em um hospital que atende a pacientes com Covid-19, no Recife, e compartilha o mesmo pensamento.

“A abertura de leitos ocorre para a gente não ter aquele cenário pós-apocalíptico de corpos pelo chão, mas de nada adianta se as pessoas não usam máscara, não respeitam o distanciamento social”, declarou.

'Parece que estamos lutando contra todo mundo'

Além da exaustão do trabalho, a sensação de ver aglomerações nas ruas traz ainda mais impotência para a profissional.

“Outro dia, saindo do plantão, vi um grupo de homens jovens aglomerados, jogando futebol amador. Por um momento, pensei que dali poderia sair meu próximo paciente, porque a faixa etária era muito próxima da que venho atendendo no hospital”, afirmou Laura.

“Está cada vez mais difícil, porque tem gente entre 30 e 50 anos, sem comorbidades e em estado grave, e a gente tem que escolher. Se eu tiver que escolher, vou fazer isso rápido, com base no conhecimento e numa decisão em equipe, mas essa demanda emocional é muito grande”, disse a médica.

O principal motivo de tristeza, segundo Laura, é saber que os casos poderiam ser evitados. “Quando fui receber minha vacina, estava cuidando de um paciente com 42 anos. Assim que fui imunizada, lembrei. Essa pessoa poderia estar salva caso tivesse sido vacinada”, afirmou Laura.

Para as profissionais de saúde, a terapia tem sido uma saída essencial para cuidar da mente. “Eu procuro ver um filme, conversar sobre outra coisa, mas a mente fica atrapalhada. O que me motiva é o pensamento sobre a fluidez das coisas. Nada dura para sempre. Em algum momento, isso vai acabar”, disse Débora.

Laura Oliveira é médica e trabalha em um hospital de referência para a Covid-19 em Pernambuco — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Segundo a SES, uma iniciativa foi oferecer suporte psicossocial aos profissionais “que vivem o estresse diário na linha de frente do combate à Covid-19, assim como para seus familiares”. O Acolhe SES pode ser buscado por meio do telefone 0800 081 4100. O serviço funciona de segunda a sábado, das 7h às 19h.

“É desolador pensar, mas parece que a gente está lutando contra todo mundo. É como se fosse naquela frase, ‘eles que lutem’. E nós realmente estamos”, disse Laura.

Estatísticas de profissionais

A SES informou, também, ter nomeado 3.190 profissionais aprovados em concurso público para o enfrentamento à pandemia. Outros 6.651 trabalhadores aprovados em seleções simplificadas foram convocados, totalizando 9.841 profissionais chamados para atuar em serviços ligados à rede pública de saúde do estado.

“No momento mais crítico da pandemia, mais de 1,8 mil que estavam atuando em ambulatórios, em situações eletivas, ainda foram recrutados e passaram para a linha de frente da rede hospitalar ou para atendimento no aplicativo Atende em Casa”, disse a SES, em nota.

Por Marina Meireles, G1 PE

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