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Com perdas de R$ 5 bi, distribuidoras dão desconto na conta de luz e negociam atraso até pelo WhatsApp

Com perdas de R$ 5 bi, distribuidoras dão desconto na conta de luz e negociam atraso até pelo WhatsApp

Foto: Reprodução/Hoje em Dia

Parcelamento de dívida em até 12 vezes e cashback de 40% na primeira fatura são estratégias para amenizar calote.

Torres de energia ao longo da Via Light. Nova Iguaçu: Distribuidoras pedem reconhecimento de perdas bilionárias à Aneel. Se o argumento for aceito, valor pode acabar sendo cobrado de forma parcelada na conta de luz nos próximos anos.

Após o aumento da bandeira vermelha nível 2 para R$ 9,49 a cada cem quilowatts-hora consumidos a partir deste mês, as distribuidoras intensificaram ações para combater o calote. O receio é de um aumento da inadimplência, que já afetou o caixa das empresas em 2020, em razão da pandemia.

Neste cenário, vale quase tudo para incentivar o pagamento da conta de luz: parcelamento em até 12 vezes, negociação facilitada por WhatsApp, desconto de 40% na primeira fatura via cashback e estímulo ao uso consciente de energia.

A preocupação não é a toa. As distribuidoras iniciaram uma negociação com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para o reconhecimento de perdas estimadas em R$ 5 bilhões no ano passado, quando houve redução de consumo e aumento do calote.

O reservatório da usina Marimbondo, localizado no Rio Grande, divisa entre São Paulo e Minas Gerais, atingiu o nível mais baixo entre todos os monitorados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) Foto: Ferdinando Ramos / Agência O Globo

Localizada na divisa de São Paulo e Minas Gerais, a hidrelétrica tem capacidade para produzir 1.440 megawatts Foto: Ferdinando Ramos / Agência O Globo

É um prejuízo que pode acabar sendo pago pelo próprio consumidor, em um mecanismo que criaria pressão adicional na conta de luz, segundo os analistas.

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Conta 8% mais cara

De acordo com Marcos Madureira, presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia (Abradee), a situação é preocupante, já que as empresas ainda tentam negociar as perdas de 2020.

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Em junho, o índice de inadimplência ficou em 3,83%, menos que os 4,45% de igual mês do ano passado. Em abril, porém, o volume de calotes chegou a 6,41%, no maior patamar do ano.

— O nível de inadimplência está em patamar elevado. O atual cenário cria mais pressão para perda de receita via inadimplência ou redução do volume de consumo. E isso ocorre depois da crise gerada pela pandemia de Covid-19. Hoje, as empresas estão em negociação para que a Aneel reconheça um prejuízo de R$ 5 bilhões — disse Madureira.

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As perdas devem ser analisadas pela diretoria da Aneel nas próximas semanas, mas ainda não há data. Caso elas sejam reconhecidas, devem ser pagas pelo consumidor de forma parcelada nos próximos anos, segundo fontes do setor

Marcelo Gama, sócio da Daemon Investimentos, aposta em alta na inadimplência. É possível que haja ainda mais um reajuste na bandeira vermelha nível 2 este ano, o que, segundo economistas, levaria a um aumento de até 8% na conta de luz:

— As distribuidoras de energia em 2020 já tiveram um ano desafiador. Agora, a elevação dos custos, a retração no consumo e o aumento da inadimplência formam um cenário de tempestade perfeita, amplificando os desequilíbrios econômico-financeiros para as distribuidoras.

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‘Vamos evitar corte?’

Até o fim de agosto, as distribuidoras não podem cortar a luz de clientes inadimplentes que têm a chamada tarifa social, destinada a consumidores de baixa renda. A Enel, com 18 milhões de clientes em Rio, São Paulo, Ceará e Goiás, está parcelando em até dez vezes as contas para os clientes em atraso.

A distribuidora fez uma parceria com o aplicativo PicPay que concede 40% do valor de volta na primeira conta quando o pagamento é cadastrado no cartão de crédito, o chamado cashback.

A comerciante Fabiana Luiz não está conseguindo manter as contas de luz Foto: Arquivo pessoal

Já a Light, com 4,3 milhões de clientes no Rio, faz negociação individual caso a dívida supere R$ 2 mil e esteja em atraso superior a dois meses. Com dez milhões de clientes, a CPFL Energia, que atua em São Paulo e Rio Grande do Sul, classifica a inadimplência como “acentuada” e deu início a uma série de iniciativas, como parcelamento em até 12 vezes.

Aos inadimplentes, a companhia passou a enviar nas contas a mensagem “Vamos juntos evitar o corte?”.

A Energisa, com oito milhões de clientes em 11 estados, também ampliou as “facilidades” e condições especiais, com descontos de até 40% e parcelamento em até 12 vezes. A empresa desenvolveu atendimento via WhatsApp, no qual basta o cliente digitar “parcelamento” para iniciar uma negociação.

Risco de aumentar ‘gatos’

A Neoenergia, presente em 18 estados e Distrito Federal com 15 milhões de clientes, desenvolveu ainda ações de eficiência energética, que vão desde a troca de resíduos por descontos na fatura e projetos educativos para ajudar na redução do consumo.

Segundo Rafael Winalda, analista do Inter Research, o aumento nos preços pode não apenas elevar o calote como aumentar a incidência de ligações clandestinas, os chamados “gatos”:

— Isso vai afetar o fluxo de caixa das companhias.

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Apesar das iniciativas de redução de consumo de energia, Fabiana Luiz, de 39 anos, vem atrasando o pagamento da conta de luz. Dona de uma loja de fotocópias na Uerj e com dois filhos, ela conta que, com as aulas remotas, as vendas caíram e por isso vem reduzindo seu consumo de energia em casa, já que essa foi a despesa que mais aumentou:

— Se não prestar atenção, metade do salário vai para pagar a conta. De noite não uso mais nada, só a televisão e a lâmpada da cozinha e do corredor. Mesmo assim, pago mais do que no início do ano.

Fabiana já teve a energia cortada e tem medo de ficar sem o serviço de novo. Ela diz que a pandemia a deixou mais dependente de energia elétrica:

— Como ficar sem luz com duas crianças? Tudo é on-line, até o estudo dos meus filhos.

(Colaborou Alex Braga, estagiário sob supervisão de Danielle Nogueira/O Globo)

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