Anticoncepcional masculino apresenta 99% de eficácia em animais
Foto: MSD/Divulgação via REUTERS - 11/10/21 |
As expectativas dos cientistas são de que as pesquisas sejam testadas em humanos ainda neste ano
Uma equipe de cientistas anunciou na quarta-feira (23), ter desenvolvido uma pílula anticoncepcional masculina com 99% de eficácia em camundongos, um avanço aguardado há anos na medicina. As informações foram divulgadas pelo O Globo
Uma equipe de cientistas anunciou na quarta-feira (23), ter desenvolvido uma pílula anticoncepcional masculina com 99% de eficácia em camundongos, um avanço aguardado há anos na medicina. As informações foram divulgadas pelo O Globo
As expectativas dos cientistas são de que as pesquisas, que não apresentaram efeitos colaterais nos animais, sejam testadas em humanos ainda neste ano, e que a pílula esteja disponível no mercado até 2027.
As descobertas sobre o novo contraceptivo serão apresentadas durante a reunião de primavera da American Chemical Society e representam um marco na oferta de métodos de controle de natalidade para o público masculino.
Desde que a pílula anticoncepcional para mulheres foi aprovada, na década de 1960, utilizada hoje por mais de 214 milhões de mulheres no mundo, os pesquisadores têm trabalhado em busca de um equivalente masculino.
“Vários estudos mostram que os homens estão interessados em compartilhar a responsabilidade contraceptiva com suas parceiras”, afirmou o doutor Abdullah Al Noman, graduado da Universidade de Minnesota, responsável por apresentar a pesquisa.
Mas, até agora, apenas preservativos e a vasectomia estão entre os métodos eficazes disponíveis para os homens.
Como funciona a pílula
No caso das mulheres, o anticoncepcional feminina usa hormônios que alteram o ciclo menstrual, uma combinação do estrogênio e da progesterona. Seguindo a mesma lógica, os esforços para desenvolver a versão masculina costumavam se concentrar no hormônio da testosterona.
Essa abordagem apresentou efeitos colaterais graves nos testes, como ganho de peso, depressão e aumento dos níveis de colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL), o que consequentemente aumenta o risco de doença cardíaca, além de baixa efetividade.
O novo modelo, por outro lado, utiliza um método não hormonal, concentrado em uma proteína chamada receptor de ácido retinoico RAR-alfa. Isso porque o ácido retinoico desempenha um papel importante no crescimento celular, na formação de espermatozoides e no desenvolvimento embrionário. Mas, ele precisa interagir com o RAR-alfa para desenvolver essas funções, e os experimentos de laboratório mostraram que camundongos sem o gene criado pelo receptor RAR-alfa são estéreis.
Os cientistas desenvolveram então um composto chamado YCT529 que bloqueia a ação do RAR-alfa. Ele foi projetado para atuar especificamente com o receptor RAR-alfa, e não com outros receptores relacionados, como RAR-beta e RAR-gama, a fim de evitar ao máximo possíveis efeitos colaterais.
Os testes em animais foram um sucesso. Quando administrado oralmente a camundongos por quatro semanas, o YCT529 reduziu drasticamente a contagem de espermatozoides do animal e foi 99% eficaz na prevenção da gravidez sem efeitos adversos observáveis. Após a interrupção do medicamento, os camundongos levaram entre 4 e 6 semanas para recuperar a fertilidade.
No Brasil, pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (UNESP), de Botucatu, também descobriram uma forma de desenvolver o que pode vir a ser o primeiro anticoncepcional masculino. Publicado recentemente na revista Molecular Human Reproduction, um estudo apontou que, a partir de uma proteína chamada EPPIN, descoberta há duas décadas e com papel no controle da movimentação dos espermatozoides, é possível a criação de medicamentos que impactem a fertilidade do homem.