14 lições de carreira de Orkut, pioneiro das redes sociais
Foto: D'Andrea Fotografia |
Em entrevista à Forbes, o fundador do Orkut diz o que aprendeu ao ver sua rede bombar nos anos 2000 e sair do ar uma década depois.
Pioneiro das mídias sociais, Orkut Büyükkökten fundou a rede que levava seu nome e fez sucesso no Brasil nos anos 2000, com 30 milhões de usuários ativos, antes de ser extinta, em 2014. Comunidades como “Nunca terminei uma borracha” e “Queria sorvete, mas era feijão” deixaram usuários saudosos. “Usar a tecnologia para conectar pessoas é fascinante porque somos muito limitados por quem conhecemos na vida real. Mas nas redes sociais as possibilidades são infinitas”, diz o engenheiro de software.
Este ano, Orkut reativou o site e deixou uma mensagem que animou os que sentem falta do clima das comunidades, scraps e depoimentos característicos da plataforma. O engenheiro reafirma que “algo novo vem aí”, e a ideia é consertar o estrago que as redes sociais vêm fazendo, com impacto na saúde mental, principalmente dos usuários mais jovens.
Orkut Büyükkökten criou a rede enquanto trabalhava como engenheiro do Google, em um programa que permitia aos funcionários dedicar 20% do seu tempo para outros projetos. Chegou a ter 300 milhões de usuários no mundo, mas foi ultrapassado pelo Facebook e acabou sendo descontinuado pelo Google.
Hoje, ele é CEO da Hello Network, rede social que conecta pessoas de acordo com os seus interesses.
Orkut Büyükkökten fundou a rede social Hello em 2016 |
O pioneiro das redes sociais e comunidades veio ao Brasil palestrar no Product Camp, evento de product management da escola de produtos digitais PM3.
Em entrevista à Forbes, ele falou sobre sua carreira no universo das redes sociais e sobre as lições que aprendeu.
1. Desistir é o verdadeiro fracasso
O Orkut.com fez sucesso, mas saiu do ar e logo ficou para trás com a chegada de novas redes sociais. Dois anos depois disso, o fundador não desistiu e lançou uma nova plataforma, a Hello, e agora prepara novidades, com o possível retorno do Orkut.com. “Mesmo se você falhar, você vai ter sucesso, porque vai aprender alguma coisa com isso”, diz. E o contrário também é verdadeiro. “É importante não desistir, porque você só falha realmente quando desiste.”
2. Pequenas decisões podem mudar sua vida
Orkut nasceu na Turquia e se mudou para a Alemanha com os pais com um ano de idade. Mais tarde, decidiu fazer faculdade em Stanford, na Califórnia – segundo ele, apenas pelo clima. Entre duas ofertas de emprego, da Microsoft e do Google, optou pela segunda. “Pequenas decisões mudam a sua vida para sempre”, diz. “Meus pais indo para a Alemanha, fazer faculdade em Stanford, em vez de qualquer outro lugar, ir para o Google.” E o que parecem pequenas coisas podem fazer uma grande diferença lá na frente. “Tudo o que vivi quando criança e como adulto me trouxe a esse lugar.”
3. Mentores são essenciais
Em Stanford, Orkut foi exposto a diferentes culturas e oportunidades, e soube atravessar as diferentes portas que se abriam. “Queria muito estudar computação gráfica, mas não sabia nada sobre. Então comecei a me encontrar com os professores”, diz. Ele entrou para um grupo de um desses professores, que acabou sendo o melhor mentor de sua vida. E em um dos projetos na universidade, acabou conhecendo os fundadores do Google, que ainda estava longe de ser o que é hoje.
4. Uma boa rede de contatos faz a diferença – na vida e na carreira
Hoje se fala muito sobre networking, e Orkut soube enxergar a importância disso há mais de duas décadas. Ele conheceu um colega na sala de aula na faculdade, fez amizade com outro nas aulas de tênis, foi apresentado a amigos de amigos, encontrou pessoas nos espaços em comum e assim construiu sua rede em Stanford. “Todos temos acesso a computador, estamos todos online. E se pudermos conhecer pessoas em uma rede social?”, pensou ele, antes de fundar o Club Nexus para conectar os alunos de Stanford.
5. Comunidades são importantes
O Orkut.com é conhecido ainda hoje por suas comunidades em que pessoas com interesses em comum se reuniam. As comunidades são hoje muito importantes para empresas, e muitas delas tem até mesmo gestores específicos para essa área, os community managers. Orkut percebeu o potencial de reunir as pessoas e criar esses espaços. “Conheci um jornalista no Rio que era gay e de uma cidade pequena e encontrou comunidades LGBT no Orkut.com e entendeu que não estava sozinho”, diz o fundador da rede. Ele também já ouviu diversas histórias sobre pessoas que fizeram amizades, conheceram seus companheiros e receberam oportunidades de trabalho.
6. Empatia é essencial para os negócios
Orkut é crítico em relação ao rumo que as redes sociais tomaram, como um espaço para disseminação de fake news e de recortes editados de uma vida perfeita. Segundo ele, as pessoas por trás dessas empresas, como as de quaisquer outras, precisam proteger suas comunidades e entender as necessidades delas. “É importante entender a psicologia e sociologia quando você está construindo produtos para pessoas.”
7. Não dá para ter controle de tudo
O Orkut.com era uma plataforma dentro do Google, que lançou sua própria rede Google+ em 2011 e acabou optando por descontinuar o Orkut.com em 2014. “O que eu poderia ter feito de diferente? Eu não tinha poder sobre isso”, diz. Por um lado, ele gostaria de ter criado o Orkut.com fora do Google, mas foi justamente essa plataforma que deu os recursos para atingir 300 milhões de usuários.
8. O passado molda o presente – e não dá para voltar atrás
Mesmo depois de extinto, o Orkut.com é o maior orgulho do fundador. Antes de acabar, ele teve dificuldades de escalar a rede e acompanhar o ritmo do número de usuários. Mas ele não tem arrependimentos, em relação à carreira e à vida pessoal. “É difícil olhar para trás e ter arrependimentos porque tudo o que fiz no meu passado, incluindo os erros, fizeram quem eu sou hoje.”
9. Erro tem que servir de aprendizado
O erro pelo erro não ajuda a avançar, mas aprender com as falhas – suas e dos outros – é um bom caminho para o sucesso. “Aprendemos muito com as mídias sociais nos últimos 10 anos, especialmente em termos do que não devemos fazer”, diz. Ele quer usar a tecnologia para “consertar” as redes e criar um ambiente saudável.
10. O mundo muda e é preciso acompanhar
Desde que Orkut criou sua rede social em 2004, muita coisa mudou. Em 2016, quando lançou a Hello Network, ele acompanhou algumas dessas mudanças. “A Hello foi feita para mobile, enquanto o Orkut.com foi feito para a web”, diz. A forma como nos comunicamos mudou radicalmente com os celulares, e isso precisava estar contemplado na nova rede.
11. Paixão move a vida e os negócios
“Uma boa vida é uma vida cheia de paixão. É muito importante seguir nossa paixão tanto na vida pessoal quanto nas nossas carreiras”, diz Orkut. Ele soube conectar suas paixões – pessoas, tecnologia e programação – em um negócio. “Encontrar sua paixão é uma jornada de uma vida. Mas quando você encontra, isso te preenche.”
12. Aprendizado é contínuo
Orkut estudou em Stanford, uma das melhores universidades dos EUA, e recomenda um estudo formal a todos que puderem ter acesso, até mesmo pelo ambiente que proporciona. Mas isso não é suficiente. “É mais sobre o seu processo de aprendizado e busca por conhecimento”, diz. Pode ser uma nova língua, hobby, curso, algo importante para a profissão ou para o próprio crescimento, mas é preciso continuar a aprender.
13. Produtos vêm de uma necessidade
Para começar um negócio, é preciso pensar em um produto que venha de uma necessidade da sociedade e que vai fazer as vidas das pessoas mais fáceis e felizes. “Por exemplo, era muito difícil pegar táxi, principalmente se você não fala a língua do país. Mas todo mundo tem um celular, e um aplicativo resolve esse problema que muitas pessoas têm”, diz.
14. Comparação é perda de tempo
Ao olhar para o lado e ver outros empreendedores ou amigos com ideias brilhantes e levantando muito capital, tente não se comparar. “Todo mundo quer fundar um unicórnio e ficar rico, mas isso não traz felicidade no fim. Preencha a sua vida com amizades, amor e paixão porque isso sim vai te preencher.”
Reportagem de Fernanda de Almeida/Forbes Brasil